Economia

Índia se torna maior fornecedora de smartphones aos EUA, superando a China em exportações

Em uma mudança histórica no comércio global de eletrônicos, a Índia ultrapassou a China e passou a liderar as exportações de smartphones para os Estados Unidos. O marco foi alcançado no segundo trimestre de 2025, período em que os embarques indianos representaram 44% do total de smartphones importados pelos norte-americanos, enquanto a participação chinesa caiu para 25%. Trata-se de um movimento simbólico e estratégico que reflete transformações profundas nas cadeias globais de produção.

De coadjuvante a protagonista no setor de tecnologia

A Índia vinha, nos últimos anos, avançando de forma contínua como um polo de montagem de produtos eletrônicos. A mudança mais acentuada se deu após uma série de decisões de grandes fabricantes, especialmente a Apple, que passaram a diversificar suas linhas de produção e reduzir a dependência da China. Com a adoção da chamada estratégia “China Plus One”, empresas globais começaram a transferir partes de sua produção para outros países asiáticos — e a Índia rapidamente despontou como principal beneficiária.

O crescimento indiano foi impulsionado por uma política industrial agressiva do governo, que ofereceu incentivos fiscais e logísticos por meio de programas como o PLI (Production-Linked Incentive). Esses estímulos atraíram gigantes como Foxconn, Wistron e Pegatron, além de empresas como Samsung e Motorola, que também expandiram suas operações no país.

Números que ilustram a virada

As exportações indianas de smartphones para os Estados Unidos cresceram mais de 240% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Em contrapartida, os embarques da China diminuíram significativamente. Esse avanço fez com que os smartphones se tornassem o principal item de exportação da Índia em 2024–2025, ultrapassando até mesmo os produtos tradicionais do comércio exterior indiano, como petróleo refinado e diamantes.

O Vietnã, outro importante polo de produção na Ásia, ficou em segundo lugar, com 30% das exportações de smartphones para o mercado norte-americano. Ainda assim, foi a Índia que liderou a nova configuração das cadeias de fornecimento globais, aproveitando-se de seu capital humano, custo competitivo de produção e apoio governamental.

Apple como principal catalisadora da mudança

A gigante norte-americana Apple foi uma das maiores responsáveis pela guinada. A empresa passou a fabricar modelos como iPhone 15 e iPhone 16 em solo indiano, com foco em exportação. Estima-se que aproximadamente 70% dos aparelhos montados pela Apple na Índia tenham como destino o mercado internacional, especialmente os Estados Unidos.

A capacidade de produção indiana também melhorou substancialmente nos últimos dois anos, tanto em termos de volume quanto de qualidade, o que facilitou a confiança de marcas globais no país como novo polo estratégico.

Influência das tensões comerciais entre EUA e China

O cenário também foi fortemente influenciado por fatores geopolíticos. As tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos sobre produtos fabricados na China, especialmente durante a administração Trump, tornaram os produtos chineses menos competitivos no mercado americano. Em contrapartida, a Índia, que mantém relações mais estáveis com Washington, se posicionou como uma alternativa segura e confiável.

Além disso, o clima de incerteza jurídica e regulatória enfrentado por empresas estrangeiras que operam na China contribuiu para acelerar o movimento de realocação de fábricas.

Riscos e desafios pela frente

Apesar do avanço expressivo, analistas destacam que parte desse crescimento pode ter sido impulsionado por antecipações de estoque, e não necessariamente por um aumento equivalente no consumo. O mercado de smartphones nos Estados Unidos registrou apenas um crescimento modesto no segundo trimestre de 2025, o que levanta dúvidas sobre a sustentação desse ritmo de exportações no médio prazo.

Outro ponto de atenção são as possíveis reações políticas. Há pressão dentro dos EUA por mais produção doméstica, e propostas para taxar ainda mais aparelhos fabricados fora do território americano podem voltar ao debate.

Conclusão: um novo capítulo na indústria global de tecnologia

A ascensão da Índia como principal exportadora de smartphones para os Estados Unidos marca uma virada importante no mapa da indústria tecnológica global. A mudança representa não apenas um reposicionamento estratégico das empresas, mas também o fortalecimento da Índia como ator relevante na economia digital mundial.

Com infraestrutura em crescimento, apoio estatal consistente e mão de obra especializada, o país se consolida como uma das principais plataformas de produção do século XXI. A superação da China nesse setor específico não é apenas simbólica — ela redefine rotas, interesses e prioridades em um mercado altamente competitivo e dinâmico.

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