Politica

Convocação feita por vice-presidente provoca divergências entre aliados do ex-presidente nos estados

A iniciativa do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, de reunir governadores para discutir questões econômicas e fiscais gerou uma onda de reações distintas dentro do bloco de chefes de Executivo estaduais ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A proposta de diálogo, embora vista como institucionalmente legítima, provocou divisões no campo político mais alinhado à direita, evidenciando tensões ainda presentes entre o governo federal e setores da oposição nos estados.

A reunião convocada por Alckmin tinha como objetivo abrir espaço para debater políticas nacionais que envolvem os estados diretamente, como o possível aumento de tarifas, ajustes na arrecadação, repasses federais e medidas de alívio fiscal. No entanto, entre os governadores bolsonaristas, a proposta gerou interpretações diferentes — enquanto alguns aceitaram participar do encontro como parte da obrigação republicana de cooperação entre os entes federativos, outros demonstraram resistência, levantando dúvidas sobre as intenções do governo e os reais efeitos das medidas em discussão.

Nos bastidores, há relatos de que parte dos governadores aliados ao bolsonarismo vê na movimentação do Palácio do Planalto uma tentativa de construir narrativa favorável ao governo federal diante de um cenário econômico ainda delicado, repassando responsabilidades ou dividindo o ônus de decisões impopulares, como um eventual “tarifaço”. Para esses gestores, participar da reunião sem garantias claras poderia significar conivência com políticas que contrariam suas agendas locais.

Outros, no entanto, adotaram uma abordagem mais pragmática, reconhecendo a importância de manter canais abertos com Brasília para garantir repasses, defender projetos regionais e buscar soluções compartilhadas para desafios fiscais. Esses governadores argumentam que a cooperação institucional não deve ser confundida com alinhamento político, e que, independentemente das diferenças ideológicas, o diálogo é indispensável para a gestão eficiente dos estados.

A divisão interna entre os aliados do ex-presidente reflete o momento de transição vivido por esse campo político, que, embora ainda com força expressiva nos estados, busca redefinir seu papel diante de um governo federal de orientação oposta. Também revela as dificuldades de manter uma frente coesa quando os interesses regionais muitas vezes se sobrepõem à estratégia nacional.

Geraldo Alckmin, por sua vez, tem adotado uma postura de mediação e busca se posicionar como figura de conciliação dentro do Executivo. Ao convidar os governadores para um diálogo aberto, o vice-presidente pretende fortalecer a governança federativa e evitar o acirramento de conflitos políticos que possam atrapalhar medidas econômicas consideradas urgentes pelo governo.

Analistas políticos avaliam que a postura de Alckmin também pode ser vista como tentativa de reduzir a resistência ao governo federal entre setores conservadores, ampliando pontes e consolidando um espaço de articulação mais técnico e menos ideológico. Ao mesmo tempo, a divisão entre os governadores bolsonaristas levanta questões sobre o grau de unidade dessa corrente política em nível estadual, especialmente diante de temas complexos como tributação, investimentos públicos e repartição de receitas.

Entre os temas que devem ser debatidos na reunião estão os impactos do novo arcabouço fiscal, os critérios de compensação pela reforma tributária, a evolução das tarifas de serviços essenciais e a possibilidade de adoção de medidas federais para socorrer estados com dificuldades orçamentárias. A presença ou ausência de governadores influentes no encontro poderá ser lida como sinal político tanto para o Planalto quanto para a oposição.

A expectativa é de que, mesmo com as divergências, a maioria dos gestores estaduais aceite participar da reunião, ainda que com ressalvas. A governabilidade em tempos de crise fiscal exige articulação entre os níveis de poder, e o custo político de se ausentar completamente de debates nacionais relevantes pode ser alto, até mesmo para lideranças fortemente alinhadas ao bolsonarismo.

No cenário mais amplo, a convocação de Alckmin e a resposta dividida do campo oposicionista nos estados apontam para uma nova etapa da política brasileira, onde as fronteiras partidárias e ideológicas são atravessadas por imperativos administrativos e pressões da realidade econômica. A forma como esses encontros serão conduzidos — e a disposição real ao diálogo de todas as partes — poderá influenciar diretamente o rumo da agenda econômica nacional nos próximos meses.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *