Conversas comerciais entre Brasil e Estados Unidos estão atreladas ao futuro político de Donald Trump
O rumo das tratativas econômicas e diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos carrega um elemento de incerteza que extrapola questões técnicas ou setoriais: o desfecho político envolvendo Donald Trump. A influência do ex-presidente norte-americano no cenário político dos EUA, especialmente diante das eleições presidenciais de 2024 e seus reflexos em 2025, tornou-se um fator central na condução de possíveis negociações bilaterais com o Brasil.
A depender do retorno de Trump à presidência ou de sua permanência como figura dominante no Partido Republicano, o perfil e o tom do relacionamento entre as duas nações podem mudar drasticamente. Durante seu mandato anterior, Trump adotou uma política externa marcada por forte viés protecionista, imprevisibilidade diplomática e preferência por acordos bilaterais diretos — muitas vezes personalistas e fora dos marcos tradicionais do multilateralismo.
Esse histórico influencia diretamente a forma como o Brasil projeta seus próximos passos nas relações com Washington. A diplomacia brasileira, atenta aos desdobramentos políticos nos Estados Unidos, avalia possíveis cenários e seus impactos sobre temas como comércio, meio ambiente, segurança, agricultura, energia e defesa.
Durante o governo Trump (2017–2021), houve aproximações pontuais entre os dois países, sobretudo durante a presidência de Jair Bolsonaro, que alinhou seu discurso a várias pautas da administração republicana. Entretanto, o relacionamento foi marcado por inconstâncias, especialmente em áreas como o comércio agrícola, onde o Brasil nem sempre colheu os benefícios esperados. Ao mesmo tempo, políticas migratórias e ambientais de Trump geraram atritos com outros países, elevando o grau de cautela nas relações diplomáticas.
Com a atual administração norte-americana, liderada por Joe Biden, a relação bilateral assumiu um tom mais institucional e voltado a temas globais, como clima e democracia. No entanto, a possibilidade de um retorno de Trump — ou de um sucessor com sua mesma linha ideológica — traz de volta um modelo de condução externa menos previsível e mais condicionado a interesses imediatos dos Estados Unidos.
Assim, o andamento de tratativas comerciais e diplomáticas entre Brasília e Washington permanece em compasso de espera, especialmente no que diz respeito a acordos mais robustos ou de longo prazo. O Brasil, por sua vez, busca manter uma postura pragmática, tentando preservar canais abertos com diferentes interlocutores políticos norte-americanos, independente do desfecho eleitoral naquele país.
A dependência do fator Trump é perceptível não apenas no conteúdo das negociações, mas também na forma como elas são conduzidas. Analistas avaliam que, com o retorno de um governo republicano mais alinhado ao estilo trumpista, o Brasil teria que reavaliar prioridades e estratégias diplomáticas, inclusive reforçando vínculos com outros parceiros internacionais para compensar eventuais mudanças bruscas no eixo Washington-Brasília.
Portanto, o desenrolar da política interna norte-americana tem peso direto sobre as perspectivas do Brasil no cenário geopolítico e comercial. As decisões de Trump — seja como candidato, líder partidário ou eventual presidente — tendem a impactar diretamente os rumos da cooperação entre os dois países. A diplomacia brasileira, atenta a esse cenário, atua com prudência e flexibilidade, ciente de que qualquer acerto relevante com os Estados Unidos, no momento, depende da trajetória política de um único nome: Donald Trump.