Politica

Governabilidade em xeque: os múltiplos fronts do governo entre Lisboa, Supremo e as ruas

A cena política brasileira atravessa um momento em que a governabilidade se tornou um bem escasso. Em meio a tensões com o Congresso, pressões econômicas, disputas judiciais e ruídos nas ruas, o governo tenta reequilibrar seus pilares — e o faz, simultaneamente, em Lisboa, nos corredores do Supremo Tribunal Federal (STF) e em diálogos com a população.

Em Lisboa, o presidente Lula participou de eventos multilaterais, tentando projetar a imagem de um Brasil confiável aos olhos do mundo. Discursos focados em cooperação internacional, meio ambiente e reformas globais tentam construir um contraponto à turbulência doméstica. Contudo, mesmo no exterior, os conflitos internos não deixam de repercutir. Questionamentos sobre o papel do governo em escândalos envolvendo espionagem, pressão sobre o Judiciário e investigações sensíveis continuam ecoando.

No Supremo, a situação é ainda mais delicada. O STF tem sido palco de decisões que afetam diretamente o equilíbrio entre os poderes. Medidas tomadas por ministros da Corte — como Alexandre de Moraes — acirram os ânimos de setores conservadores e reativam a polarização entre Executivo, Judiciário e parte significativa da base oposicionista no Congresso. As falas e ações de parlamentares, muitas vezes em tom de ameaça, evidenciam a dificuldade de articulação e a perda de controle sobre aliados e adversários.

No Congresso, a governabilidade se vê ainda mais ameaçada por votações em que o governo é derrotado ou pressionado a fazer concessões contrárias ao seu programa. Recentemente, medidas que afetam a arrecadação e o equilíbrio fiscal foram derrubadas, mesmo com apelos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Isso demonstra que, sem uma base sólida e unificada, qualquer tentativa de avançar com reformas estruturais pode naufragar.

Nas ruas, há sinais mistos. Parte da população se mantém mobilizada em torno de pautas econômicas, sociais e ideológicas, mas o ambiente geral é de frustração e desconfiança. A promessa de pacificação nacional e reconstrução institucional enfrenta obstáculos práticos, como a persistência da inflação em áreas sensíveis (como alimentos), aumento do custo de vida, dificuldades na área da saúde e insatisfação com serviços públicos.

A busca pela governabilidade se tornou uma corrida em várias pistas. O governo precisa administrar conflitos externos, conter crises internas, manter a base política coesa, dialogar com instituições e, sobretudo, reconquistar a confiança da população. O desafio é administrar tudo isso ao mesmo tempo, sem perder a narrativa e o controle.

Entre as articulações diplomáticas, decisões judiciais controversas e o termômetro popular, o governo tenta encontrar um ponto de estabilidade. O problema é que, neste momento, Lisboa, o Supremo e as ruas falam idiomas diferentes — e conciliá-los pode exigir muito mais do que discursos, acenos ou promessas. Exigirá, sobretudo, habilidade política, escuta ativa e capacidade de entregar resultados concretos.

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