Durante encontro do banco do BRICS, Haddad reafirma proposta de tributar os super-ricos
Durante um evento promovido pelo Novo Banco de Desenvolvimento — instituição financeira ligada ao grupo BRICS — o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender com firmeza a taxação dos chamados super-ricos. O posicionamento reforça uma pauta que tem ganhado relevância tanto no cenário nacional quanto no debate econômico internacional: a criação de mecanismos mais eficazes para enfrentar a desigualdade por meio de uma tributação mais justa sobre grandes fortunas.
A fala de Haddad não veio por acaso. Com o aumento constante da concentração de renda no topo da pirâmide global e nacional, a taxação de bilionários e grandes patrimônios vem sendo apontada por economistas, governos e organismos multilaterais como uma alternativa para financiar políticas sociais, reduzir o abismo econômico e garantir recursos para enfrentar os desafios das próximas décadas — como a transição energética, o combate às mudanças climáticas e a modernização produtiva diante da automação.
Ao abordar o tema no contexto de um evento do banco dos BRICS — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — Haddad procurou inserir o Brasil como um ator propositivo nesse debate. Ele defendeu a ideia de que a tributação dos super-ricos não deve ser vista como uma questão apenas de justiça social, mas como uma estratégia necessária para a sustentabilidade fiscal dos países e a manutenção de um sistema internacional mais equilibrado.
O ministro argumentou que, nas últimas décadas, houve uma clara tendência de redução da carga tributária sobre os muito ricos, especialmente em países desenvolvidos. Essa retração nas alíquotas aplicadas às grandes fortunas, heranças e rendimentos do capital contribuiu para o aprofundamento das desigualdades sociais. Haddad sustentou que reverter essa tendência deve ser uma prioridade global — e que os países do BRICS podem liderar essa transformação.
Na avaliação do titular da Fazenda, é urgente que o mundo discuta a implementação de uma alíquota mínima global sobre a riqueza dos bilionários, de forma coordenada entre as nações. Segundo ele, apenas a atuação conjunta poderá evitar que os detentores de grandes fortunas continuem movendo seus ativos para paraísos fiscais ou explorando brechas jurídicas para escapar da tributação.
Outro ponto enfatizado por Haddad é a enorme diferença entre os recursos necessários para combater a pobreza e os valores acumulados pelas maiores fortunas do planeta. Ele argumentou que, se uma taxa anual modesta fosse aplicada sobre esses patrimônios bilionários, seria possível arrecadar valores suficientes para financiar iniciativas de combate à fome, acesso à educação e saúde, infraestrutura sustentável e desenvolvimento tecnológico em larga escala.
Além da dimensão internacional do discurso, Haddad também dialoga com o cenário interno. A taxação dos super-ricos é uma bandeira cada vez mais presente nas discussões sobre reforma tributária no Brasil. A equipe econômica do governo vem sinalizando que pretende avançar em propostas que tornem o sistema tributário mais progressivo — ou seja, que cobre proporcionalmente mais de quem tem mais. Isso inclui a revisão de isenções, a criação de tributos sobre grandes patrimônios e medidas contra a evasão fiscal de grandes fortunas.
Em sua fala no evento, Haddad sugeriu que o atual sistema internacional de finanças, construído ainda no século XX sob regras que já não correspondem às novas realidades econômicas e tecnológicas, precisa ser revisto. Para ele, novas regras de cooperação fiscal entre os países são essenciais para impedir que a riqueza global continue se concentrando de forma desproporcional nas mãos de uma pequena elite econômica.
O discurso do ministro também é visto como parte de uma articulação política mais ampla do governo federal, que tenta ampliar o apoio à ideia de justiça tributária tanto dentro do Brasil quanto em fóruns internacionais. Ao trazer esse tema para o centro de um evento ligado aos BRICS, Haddad procura construir pontes com outras economias emergentes, que compartilham desafios semelhantes no enfrentamento da desigualdade e no financiamento de políticas públicas robustas.
No pano de fundo da fala de Haddad está uma pergunta fundamental que muitos países enfrentam: quem deve pagar a conta da reconstrução econômica global, das crises ambientais e dos avanços tecnológicos que exigem investimentos massivos em infraestrutura, ciência e inclusão social? Para o ministro, é evidente que os mais ricos do planeta devem contribuir com uma parcela mais justa.
Ao encerrar sua fala, Haddad reiterou que a proposta não se trata de penalizar o sucesso econômico, mas de construir um novo pacto social baseado em equilíbrio, transparência e responsabilidade. Segundo ele, essa é uma agenda que deve unir diferentes países, continentes e culturas, em nome de um futuro comum mais sustentável e justo para todos.