Presidente do Paraguai cobra explicações de Lula sobre ação da Abin no país durante cúpula do Mercosul
Durante a cúpula do Mercosul realizada nesta semana, o presidente do Paraguai, Santiago Peña, fez um movimento inesperado ao abordar diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com questionamentos sobre uma suposta ação de espionagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em território paraguaio. O caso, que envolve a chamada “Abin paralela”, ganhou contornos diplomáticos ao ultrapassar as fronteiras do Brasil e gerar desconforto entre os vizinhos sul-americanos.
Segundo informações de bastidores, Peña teria mencionado diretamente o incômodo com a possibilidade de o governo brasileiro ter conduzido operações de monitoramento eletrônico contra autoridades paraguaias, sem qualquer conhecimento ou autorização formal. A fala, ainda que feita de maneira protocolar, surpreendeu diplomatas presentes e trouxe tensão ao ambiente já politicamente sensível da cúpula.
A polêmica gira em torno das ações ilegais supostamente executadas por um núcleo da Abin que teria usado ferramentas de espionagem digital, como o software israelense FirstMile, para rastrear celulares de diversas autoridades. A investigação em curso no Brasil indica que parte desses alvos estaria localizada fora do território nacional, incluindo países como Paraguai e Argentina.
O governo paraguaio, que já havia sinalizado informalmente desconforto com o caso, agora eleva o tom ao levar o tema para o plano político e exigir respostas públicas. Peña demonstrou preocupação com o impacto que esse tipo de ação pode causar nas relações bilaterais e na confiança mútua entre os países do bloco.
Lula, por sua vez, adotou um tom cauteloso. Segundo pessoas próximas à comitiva brasileira, o presidente teria reiterado que seu governo não compactua com práticas ilegais e que todas as investigações sobre o tema estão em curso no Supremo Tribunal Federal e sob análise da Polícia Federal. Ainda assim, evitou dar detalhes sobre o que efetivamente foi descoberto até o momento.
O incidente lança sombra sobre a imagem do Brasil dentro do Mercosul, justamente em um momento em que o governo tenta recuperar protagonismo diplomático na América do Sul. A oposição no Brasil já começa a usar o episódio como munição para reforçar críticas à suposta existência de um “Estado paralelo” durante a gestão anterior e a falta de controle efetivo sobre os órgãos de inteligência.
A situação, além de desgastar o Palácio do Planalto em nível internacional, deve pressionar ainda mais a cúpula do governo a oferecer respostas concretas sobre o escândalo da Abin. A depender dos desdobramentos diplomáticos, o Brasil pode enfrentar novos pedidos formais de esclarecimento — ou até mesmo investigações em fóruns internacionais — caso os indícios de espionagem extraterritorial se confirmem.