Motta tenta rebater críticas ao Congresso com vídeo distorcido e discurso defensivo
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, tem sido um dos principais alvos de críticas nas últimas semanas, especialmente após a derrubada de medidas do governo que buscavam ajustar a arrecadação, como a taxação de compras internacionais e a manutenção do IOF em operações financeiras. Diante da crescente pressão da opinião pública, o líder do governo no Congresso, José Guimarães (PT-CE), e o ministro Fernando Haddad intensificaram os alertas sobre o impacto fiscal dessas decisões. Em meio a esse cenário, o presidente da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, deputado Marco Bertaiolli (PSD-SP), também ganhou protagonismo ao defender pautas que priorizam interesses de setores empresariais.
Mas foi o deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), relator de projetos-chave, quem entrou em cena para tentar limpar a imagem da Casa. Com o Congresso no centro da insatisfação popular, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, optou por um tom mais comedido, enquanto Motta – em meio a protestos e críticas – decidiu partir para o ataque e publicou nas redes sociais um vídeo em que tenta defender o Parlamento.
O vídeo, contudo, foi rapidamente criticado por especialistas e analistas políticos por conter distorções e omitir contextos importantes. Nele, Motta alega que o Congresso tem trabalhado incansavelmente pelo povo brasileiro, mostrando imagens de sessões lotadas e votações em curso. O material exibe trechos de discursos de deputados exaltando a produtividade da Câmara e aprovando projetos “de interesse nacional”.
O problema, segundo analistas, é que o vídeo ignora completamente os retrocessos provocados por decisões recentes, como a derrubada de normas que garantiam arrecadação fiscal e a aprovação de medidas que ampliam benefícios a setores já privilegiados, muitas vezes em detrimento da população mais pobre. Além disso, a peça publicitária disfarçada de prestação de contas omite a resistência de setores do Congresso em avançar em pautas como a reforma tributária com justiça social, a regulamentação das plataformas digitais e o combate à sonegação fiscal.
A estratégia de comunicação adotada por Motta, ao invés de reduzir o desgaste, aumentou a percepção de que há um esforço deliberado de manipular a narrativa para esconder os reais interesses em jogo. O vídeo foi amplamente compartilhado em grupos políticos nas redes sociais, mas também virou motivo de piada e indignação, especialmente entre eleitores progressistas e economistas preocupados com a sustentabilidade fiscal.
Enquanto isso, o governo tenta costurar uma nova rodada de negociações para evitar mais derrotas no Congresso, ao passo que os parlamentares da base aliada pressionam por emendas e cargos em troca de apoio. No centro da tensão, permanece o impasse entre a necessidade de ajustar as contas públicas e a resistência política em adotar medidas impopulares – sobretudo em ano pré-eleitoral.
A publicação do vídeo por Motta não resolve a crise de imagem que o Congresso enfrenta, tampouco responde às críticas substanciais sobre o impacto das suas decisões no cotidiano dos brasileiros. Ao contrário, reforça a sensação de que há um abismo entre a realidade do povo e o discurso autoprotetor de muitos parlamentares.