Economia

Haddad mira supersalários com fim do IOF, mas mercado pressiona por corte no salário mínimo

Com o plano do governo federal de acabar com a cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) até 2027, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se vê pressionado a encontrar alternativas para compensar a perda bilionária na arrecadação. E, no centro desse novo cenário de ajuste fiscal, dois caminhos opostos surgem: o combate aos supersalários no funcionalismo público ou a contenção de gastos com o salário mínimo. Enquanto o governo mira os altos vencimentos, o mercado financeiro prefere olhar para baixo.

O fim do IOF é uma exigência de acordos internacionais e tem como meta facilitar investimentos e transações no país, aproximando o Brasil de padrões mais modernos de economia. Mas a arrecadação do imposto representa cerca de R$ 25 bilhões anuais, o que obriga o Executivo a buscar novas formas de equilibrar as contas.

Haddad tem defendido publicamente que cortes não devem penalizar os mais pobres, e, por isso, sugeriu enfrentar os chamados “supersalários” — remunerações que ultrapassam o teto constitucional do funcionalismo, principalmente em setores do Judiciário, Ministério Público e algumas autarquias federais. A proposta não é nova, mas ganha força como contrapartida à necessidade de equilíbrio fiscal.

Por outro lado, parte do mercado financeiro e analistas ligados a instituições privadas têm sinalizado, nos bastidores, que seria mais eficaz revisar o piso nacional de salários, o que traria um impacto mais imediato e direto sobre os gastos da União. Essa proposta, no entanto, é altamente impopular, tanto entre trabalhadores quanto no Congresso, e representaria um forte desgaste político ao governo Lula.

A pressão é dupla: Haddad precisa mostrar responsabilidade fiscal para manter a confiança de investidores e evitar instabilidade no câmbio e nos juros, mas, ao mesmo tempo, sustentar a imagem de um governo preocupado com a justiça social. Em discursos recentes, o ministro reforçou que o caminho não será penalizar quem ganha menos. “Vamos onerar quem está pedindo socorro?”, questionou em uma entrevista, ao se referir aos trabalhadores mais vulneráveis.

A discussão sobre os supersalários, porém, encontra resistência nas próprias estruturas do Estado. Cortes nos altos salários enfrentam forte lobby de corporações poderosas, e qualquer proposta nesse sentido esbarra em questões legais e interpretações do Supremo Tribunal Federal sobre direitos adquiridos.

Com o prazo para o fim do IOF se aproximando, Haddad terá de negociar intensamente com o Congresso para viabilizar compensações e evitar desequilíbrio fiscal. A expectativa é que, nos próximos meses, o governo apresente um pacote mais amplo de medidas, tentando conciliar as pressões do mercado com as promessas de campanha.

Enquanto isso, o embate entre os que defendem cortar no topo e os que sugerem apertar a base deve seguir quente em Brasília, com impacto direto no futuro econômico e social do país.

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