Kotscho critica STF por julgar ação influenciada pela “política do espetáculo”
O jornalista Ricardo Kotscho fez duras críticas à decisão do Supremo Tribunal Federal de levar a julgamento uma ação que, segundo ele, tem origem na chamada “política do espetáculo”. Em sua análise, o STF estaria desperdiçando tempo e foco com processos motivados mais por estratégias midiáticas e interesses eleitorais do que por fundamentos jurídicos sólidos ou urgência institucional.
Política, holofotes e tribunais
Para Kotscho, o Brasil vive um momento em que setores do Judiciário, da política e da imprensa se alimentam mutuamente de acontecimentos convertidos em espetáculo. O STF, ao se envolver diretamente nesse ambiente, acabaria se distanciando de seu papel técnico e constitucional.
Ele observa que muitas ações chegam à Suprema Corte não por serem questões centrais do Estado democrático de direito, mas por se tornarem temas de repercussão pública, que geram manchetes, polarizam opiniões e funcionam como combustível para estratégias políticas de determinados grupos.
A crítica ao uso político do Judiciário
O jornalista ressalta que essa lógica leva o Supremo a julgar temas carregados de apelo emocional ou ideológico, mas que, na prática, contribuem pouco para a pacificação institucional ou para a construção de segurança jurídica. A consequência seria um Judiciário mais exposto, sujeito a críticas de parcialidade e afastado de sua função de guardião da Constituição.
Além disso, ele aponta o risco da banalização do papel do STF como última instância de Justiça. “Quando tudo vira pauta do Supremo, até o que não deveria estar lá, a instituição perde prestígio e autoridade diante da sociedade”, argumenta.
O reflexo nos demais Poderes
Kotscho também sugere que essa exposição contínua e seletiva do STF interfere no equilíbrio entre os poderes. Com o Judiciário assumindo protagonismo em temas essencialmente políticos, o Congresso tende a se omitir ou a terceirizar decisões polêmicas, e o Executivo usa o Judiciário como escudo ou palco de disputas narrativas.
Para ele, a Corte precisa retomar seu papel de árbitro silencioso, com decisões fundamentadas tecnicamente e menos suscetíveis ao calor da opinião pública ou das redes sociais. “Não é papel do Supremo julgar com base em manchetes ou pressão popular, mas sim com base na lei e na Constituição”, reforça.
Um chamado à responsabilidade institucional
Ao final de sua análise, Kotscho não questiona a legitimidade do STF para julgar a ação em questão, mas critica o momento, o contexto e os interesses por trás de sua tramitação. Segundo ele, a sociedade espera da Corte sabedoria, equilíbrio e sobriedade — especialmente em tempos de radicalização e desgaste das instituições.
Em um cenário político conturbado como o atual, onde pautas explosivas dominam o noticiário e servem de munição para todos os lados, o jornalista alerta: quando o STF entra nesse jogo, deixa de ser árbitro e passa a ser mais um jogador — e o Brasil perde uma de suas últimas referências de estabilidade institucional.