Acareação pressiona e faz Mauro Cid mudar postura diante de investigações
A tão aguardada acareação entre o tenente-coronel Mauro Cid e outros envolvidos nos escândalos do entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro teve efeitos visíveis: Cid apareceu mais contido, menos confiante e com uma postura notavelmente encolhida. O homem que antes parecia firme em suas declarações à Polícia Federal demonstrou, diante do confronto direto com seus antigos aliados e superiores, sinais claros de desconforto e cautela.
Silêncio estratégico ou receio?
Durante o procedimento, que serviu para confrontar versões conflitantes de depoimentos dados em inquéritos sobre a tentativa de golpe de Estado e o uso indevido da estrutura da Abin, Mauro Cid optou por uma abordagem mais reservada. Evitou embates diretos, não confrontou assertivamente os demais depoentes e, em alguns momentos, aparentou hesitação.
Para investigadores, o comportamento mais retraído pode ter sido uma estratégia orientada por seus advogados: falar o mínimo possível para evitar contradições ou reforçar indícios que possam comprometer ainda mais sua situação jurídica. Para outros, porém, a mudança de atitude pode ser resultado da pressão crescente das investigações e do isolamento gradual que ele enfrenta.
O peso do rompimento
Cid foi um dos primeiros ex-integrantes do círculo próximo de Bolsonaro a fazer delação premiada, entregando detalhes sensíveis sobre operações sigilosas, documentos falsificados e articulações paralelas de inteligência. Sua decisão gerou um racha entre aliados militares e políticos do bolsonarismo, e desde então ele vem sendo alvo de críticas e desconfiança — inclusive de seus antigos superiores.
Na acareação, a tensão foi evidente. De um lado, interlocutores tentando minimizar suas responsabilidades ou contradizer seu depoimento; do outro, Cid, já desgastado publicamente, lidando com o peso de ter rompido com a estrutura que o sustentava. A expectativa de que ele reforçasse suas acusações de forma enfática não se confirmou — ao menos não nesta ocasião.
Implicações para a investigação
Embora tenha recuado no tom, Cid segue sendo uma peça central no quebra-cabeça montado pela PF e pelo Supremo Tribunal Federal. Ele forneceu dados, documentos, áudios e detalhes que ajudaram a abrir outras frentes de apuração, inclusive em relação à atuação de militares, assessores e integrantes do antigo governo na tentativa de deslegitimar o processo eleitoral.
A acareação, ainda que não tenha produzido confrontos espetaculares ou revelações inéditas, serviu para reforçar o clima de pressão psicológica que envolve os investigados. O simples fato de Cid demonstrar insegurança ou cautela já é, por si só, um sinal de que o cerco está se fechando — e que a verdade completa pode ainda não ter sido totalmente dita.
O que vem a seguir?
Com novos depoimentos marcados e mais provas sendo analisadas, a tendência é que o papel de Mauro Cid continue sendo revisto à medida que as investigações avançam. Se ele for considerado omisso ou contraditório em relação ao que já revelou em sua delação, poderá perder os benefícios legais negociados com o Ministério Público.
A acareação pode ter “encolhido” Mauro Cid momentaneamente, mas também aumentou o interesse sobre ele — tanto dos investigadores quanto do público. O silêncio cauteloso pode ser apenas a ante-sala de uma nova fase de revelações. Ou de retração definitiva. O tempo e os próximos passos da Justiça dirão.