“Quem cobra imposto de bets e bilionários somos nós”, diz Haddad em defesa da reforma tributária
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender com veemência a proposta de reforma tributária em tramitação no Congresso Nacional. Durante um evento em São Paulo, ele rebateu críticas ao governo federal e afirmou que, ao contrário do que dizem alguns opositores, é a atual gestão que está enfrentando os interesses dos setores mais privilegiados da sociedade.
“Quem está cobrando imposto de bilionário, de fundo exclusivo, de offshore, de apostas eletrônicas, de multinacional que manda dinheiro para fora, somos nós”, declarou Haddad. A fala reforça o argumento do ministro de que a proposta de reforma tem um viés de justiça fiscal, buscando equilibrar a arrecadação e corrigir distorções que historicamente beneficiaram os mais ricos.
O ministro ainda afirmou que o governo está trabalhando para “colocar o Brasil no rumo do desenvolvimento sustentável” e que isso exige coragem para mexer em estruturas tributárias que, segundo ele, foram desenhadas para proteger interesses concentrados.
A taxação de apostas online, conhecidas como “bets”, é um dos exemplos citados por Haddad como símbolo da resistência que a equipe econômica enfrenta. A regulamentação do setor foi um dos primeiros atos da gestão Lula no campo fiscal, e a expectativa do Ministério da Fazenda é arrecadar bilhões com essa medida nos próximos anos.
Outro ponto central citado por Haddad é a taxação dos chamados “super-ricos”, especialmente por meio da incidência de impostos sobre rendimentos de fundos exclusivos e operações com offshores — empresas sediadas em paraísos fiscais, geralmente usadas para evitar tributação. Segundo ele, medidas nesse sentido foram negligenciadas por governos anteriores e agora enfrentam forte lobby contrário.
A reforma tributária em discussão inclui mudanças tanto na estrutura dos tributos sobre consumo — com a criação do IVA dual, que substituirá IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS — quanto no sistema de tributação da renda. A proposta prevê simplificação, unificação de impostos e maior transparência no processo de arrecadação, algo que o ministro considera essencial para o crescimento sustentável do país.
Em tom firme, Haddad também criticou setores da elite econômica e política que, segundo ele, tentam sabotar o debate e manter privilégios em nome da “liberdade de mercado”. Para ele, essa postura ignora as desigualdades estruturais do país e compromete qualquer projeto de desenvolvimento social duradouro.
Apesar dos embates políticos e da pressão de grupos contrários à reforma, o ministro disse confiar no diálogo com o Congresso para aprovar o projeto. Ele destacou que, nos bastidores, há um consenso crescente sobre a necessidade de mudar o sistema tributário brasileiro, considerado um dos mais complexos e regressivos do mundo.
A fala de Haddad mostra que o governo pretende sustentar o discurso de justiça social como pilar da reforma, mesmo diante da resistência de setores poderosos. Para ele, cobrar impostos de quem lucra mais — e de setores que até hoje escapavam da tributação — é uma questão de coerência, e não apenas de arrecadação.