Politica

Até quando o Congresso vai brincar com dinheiro público?

A pergunta é simples, direta e dolorosa: até quando o Congresso Nacional continuará tratando o dinheiro público como se fosse um fundo pessoal, um cofre sem dono, uma festa sem fim bancada pelo povo? A cada nova revelação sobre verbas mal aplicadas, aumentos de salários, penduricalhos de gabinete, emendas de bilhões distribuídas sem critérios claros e benefícios autopromocionais, a indignação cresce — mas, na prática, pouco muda.

Enquanto boa parte da população se desdobra entre boletos, filas do SUS e transporte público lotado, parlamentares seguem desfrutando de um mundo paralelo, onde gasolina, carro oficial, cota para passagens aéreas, auxílio-moradia e reembolso de jantares caríssimos são parte do “trabalho legislativo”. E mais do que isso: são vistos como direitos inquestionáveis.

Não se trata apenas de gastos elevados, mas da falta de transparência e de responsabilidade com o uso dos recursos. O chamado “orçamento secreto”, as emendas de relator, os fundos partidários turbinados, os salários inchados dos gabinetes e os projetos sem impacto real são sintomas de um sistema que se acostumou a gastar muito e explicar pouco.

É como se os parlamentares vivessem blindados por uma lógica própria, alheia às crises econômicas e sociais que atingem a população. Quando um prefeito gasta mal, é cobrado. Quando um empresário frauda contas, responde à Justiça. Quando um cidadão comum atrasa o imposto, sofre sanção. Mas quando o Congresso exagera, distorce ou manipula recursos públicos, quase sempre o escândalo se dissipa sem consequências reais. Há investigação, talvez CPI, alguns discursos inflamados — e logo tudo volta ao normal. A farra continua.

A verdade é que a falta de punição alimenta o abuso. O Congresso se sente confortável para legislar em causa própria porque raramente enfrenta consequências. A sociedade grita, mas os parlamentares se protegem uns aos outros em um pacto não escrito de autopreservação.

E o problema é estrutural. Não se resume a um partido ou ideologia. A lógica da apropriação dos recursos públicos para manutenção de poder é transversal. Está no centrão fisiológico, mas também nas siglas que se dizem de oposição. Está na base do governo e naqueles que vivem criticando “a velha política”, mas que, quando têm a oportunidade, reproduzem os mesmos vícios.

Até quando? Até que a pressão da sociedade seja maior do que o conforto da bolha política. Até que transparência não seja uma palavra bonita em discursos, mas uma exigência real. Até que prestação de contas deixe de ser exceção e vire regra. Até que a indignação saia das redes sociais e chegue de forma contundente às urnas, às ruas, aos gabinetes e às instituições de controle.

A brincadeira com o dinheiro público não é só imoral. É cruel. E quem paga essa conta, todos os meses, é quem mais precisa que esse dinheiro fosse bem aplicado: em saúde, educação, moradia, infraestrutura e segurança. Cada centavo desviado ou desperdiçado é uma oportunidade a menos para melhorar a vida de milhões de brasileiros.

Não dá mais para tratar essa farra como parte do jogo político. É hora de mudar as regras — e, se for necessário, mudar os jogadores também.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *