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Mesmo após ligação direta de Lula a Hugo, governo não consegue barrar urgência sobre tema do IOF

Em um momento de crescente tensão fiscal e política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou diretamente em cena e realizou uma ligação pessoal ao deputado Hugo, uma das figuras centrais no Congresso atualmente. O objetivo do contato foi claro: tentar dissuadir o parlamentar de apoiar o avanço de uma pauta considerada sensível para o governo — a tramitação em regime de urgência de uma proposta que mexe com as regras do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Apesar do gesto presidencial, o apelo de Lula não surtiu o efeito esperado. O movimento em torno da urgência foi mantido, e a proposta seguirá com celeridade no Legislativo, contrariando os planos do Executivo de controlar o calendário e o teor do debate.

A ligação, segundo interlocutores próximos ao Planalto, foi feita com tom institucional, mas também carregada de preocupação. A crise fiscal vivida pelo governo, agravada pelas dificuldades de arrecadação e pelos desafios no cumprimento do novo arcabouço fiscal, tornou qualquer tema ligado à tributação um ponto de atenção máxima. A simples possibilidade de redução de receitas oriundas do IOF, ainda que parcial ou simbólica, poderia representar mais um revés na tentativa de manter as contas equilibradas.

Do lado do Congresso, o gesto de manter a urgência foi visto como um recado político: há insatisfação crescente com a condução econômica e com o espaço dado aos parlamentares nas discussões sobre arrecadação. Para alguns deputados, a estrutura atual do IOF é regressiva, onerosa e pouco transparente, servindo mais como instrumento arrecadatório do que como mecanismo regulatório. Isso alimenta a defesa por mudanças, mesmo que em meio a uma conjuntura desfavorável para mexidas fiscais.

A permanência da urgência também revela o enfraquecimento do poder de articulação do Planalto em determinados temas. Ainda que Lula mantenha influência sobre líderes históricos e esteja retomando canais diretos de negociação, parte da nova composição da Câmara tem operado com maior independência, e nomes como Hugo passaram a desempenhar papel de peso nas decisões estratégicas da Casa.

Analistas políticos apontam que o episódio é mais um reflexo das dificuldades enfrentadas pelo governo na relação com o Legislativo, especialmente em pautas que envolvem arrecadação e controle fiscal. Mesmo com um presidente ativo nas negociações, o avanço de projetos sem o crivo do Executivo revela um cenário de fragmentação e desgaste na base aliada.

A urgência aprovada deverá acelerar os trâmites do projeto que trata do IOF, encurtando prazos para análise em comissões e antecipando sua chegada ao plenário. O governo, por sua vez, terá pouco tempo para organizar uma resposta política que amenize os impactos da tramitação. Até lá, as tratativas seguirão nos bastidores, com o Planalto tentando conter novas derrotas e Hugo consolidando-se como uma peça-chave no tabuleiro do Congresso.

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