Chefe da Câmara promete esclarecimento sobre situação de Zambelli ainda nesta semana
Em um dos momentos mais tensos do atual cenário político nacional, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), confirmou que deverá se pronunciar até esta quinta-feira sobre o caso que envolve a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). A parlamentar está sendo julgada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto envolvimento em um esquema de invasão de sistemas do Poder Judiciário, mais especificamente um ataque cibernético ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A possível repercussão institucional do caso tem gerado intensos debates dentro e fora do Congresso Nacional.
A sinalização de que Hugo Motta falará oficialmente sobre o tema representa um movimento importante dentro da Câmara dos Deputados, uma vez que, desde a abertura do processo no STF, os parlamentares têm evitado manifestações públicas mais incisivas sobre o futuro político de Zambelli. Ao prometer uma declaração oficial ainda nesta semana, Motta coloca sua liderança à frente de um debate que promete impactar as dinâmicas internas da Casa Legislativa e sua relação com o Judiciário.
Carla Zambelli é ré em um processo criminal que aponta sua suposta ligação com o hacker Walter Delgatti Neto, acusado de realizar o ataque aos sistemas do CNJ. A acusação sustenta que a parlamentar teria facilitado ou instigado a prática do crime, utilizando sua posição pública para intermediar ações destinadas a abalar a confiança nas instituições judiciais. O relator do caso no STF, ministro Alexandre de Moraes, já emitiu voto favorável à condenação da deputada, sugerindo uma pena que inclui mais de uma década de prisão e a perda do mandato parlamentar. O julgamento ainda está em curso, e os demais ministros da Primeira Turma seguem analisando o caso.
Enquanto isso, a Câmara dos Deputados observa com cautela. O possível afastamento de uma deputada eleita pelo voto popular levanta discussões sobre os limites da imunidade parlamentar, a interferência entre poderes e a responsabilidade dos legisladores perante a legislação penal comum. A situação coloca Hugo Motta em uma posição crítica: cabe a ele, como presidente da Casa, garantir que a resposta institucional da Câmara esteja à altura da gravidade do momento, sem comprometer o funcionamento do Parlamento.
Há também o aspecto político do episódio. Zambelli é figura conhecida no cenário bolsonarista e tem se notabilizado por sua postura crítica ao STF e à atuação de ministros como Moraes. Sua eventual condenação pode gerar reações intensas entre seus apoiadores e influenciar o debate sobre liberdade de expressão, ativismo digital e limites legais da atuação política nas redes sociais. O pronunciamento de Motta, portanto, não apenas terá peso jurídico e institucional, mas também poderá definir o tom político com que a Câmara pretende lidar com situações similares no futuro.
Embora ainda não tenha divulgado o conteúdo de sua manifestação, é esperado que o presidente da Câmara aborde temas como o respeito à separação dos Poderes, a necessidade de responsabilização nos limites da lei e o compromisso da Casa com a ética parlamentar. A depender do desfecho do julgamento no STF, Hugo Motta poderá também acionar os trâmites legais para a cassação de mandato, caso isso se torne juridicamente exigível.
Nos bastidores, lideranças partidárias já se movimentam. Alguns parlamentares da oposição veem o momento como um teste de independência da Câmara frente ao Judiciário, enquanto outros consideram essencial que o Legislativo reafirme seu compromisso com a legalidade, independentemente do partido ou posição ideológica dos envolvidos. A manifestação de Motta deverá também refletir essas pressões internas, mostrando como ele pretende conduzir a Câmara diante de um possível precedente jurídico-político de grandes proporções.
O caso também levanta discussões sobre o uso de tecnologia no meio político e os riscos associados a crimes digitais. A alegada ligação entre um parlamentar e ações de hackers que violaram sistemas do Poder Judiciário reforça a urgência de uma legislação mais robusta sobre crimes cibernéticos e segurança da informação em ambientes institucionais. Parlamentares de diversas bancadas já indicaram interesse em rever normas e protocolos de segurança interna para evitar novos episódios semelhantes.
Até esta quinta-feira, a expectativa é de que Hugo Motta esclareça como a Câmara pretende responder ao processo que envolve Carla Zambelli e quais medidas poderão ser tomadas dependendo do julgamento final no STF. Independentemente do posicionamento, seu pronunciamento será um marco na condução da crise institucional em curso, e poderá influenciar o tom das relações entre os poderes da República nos próximos meses.