Ao negar ditadura, Zema mostra como ambição eleitoral apaga a História
A recente declaração do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, relativizando o período da ditadura militar no Brasil, expõe uma tendência cada vez mais frequente na política: o uso estratégico da negação histórica como ferramenta de projeção eleitoral. Ao afirmar que “houve excessos dos dois lados” e evitar classificar os anos de 1964 a 1985 como uma ditadura, Zema se aproxima de setores da direita mais radicalizada, em especial da base bolsonarista, em um claro gesto de alinhamento político.
A fala de Zema, embora não inédita no discurso da nova direita brasileira, representa um movimento calculado. Em busca de protagonismo nacional e possível candidatura em 2026, o governador mineiro parece disposto a reescrever passagens da História para agradar uma fatia do eleitorado que rejeita a crítica ao regime militar e enxerga nele uma era de “ordem” e “crescimento”. Esse revisionismo, porém, ignora as centenas de mortos e desaparecidos políticos, a censura, a tortura institucionalizada e a supressão de liberdades individuais que marcaram o período.
Ao escolher esse caminho, Zema não apenas banaliza o sofrimento das vítimas do regime como também se distancia da postura institucional esperada de um chefe de estado. Governadores, como líderes eleitos, têm responsabilidade de zelar pela verdade histórica, especialmente quando essa verdade foi reconhecida por órgãos oficiais, como a Comissão Nacional da Verdade.
A postura de Zema reforça a perigosa tendência de transformar a História em instrumento de marketing eleitoral. Quando líderes públicos preferem a conveniência do revisionismo à fidelidade aos fatos, abrem espaço para a distorção da memória coletiva e para o enfraquecimento da democracia. A ambição política, quando descolada da responsabilidade histórica, não só compromete o presente, como compromete também o futuro.