STF retoma nesta quarta-feira (28) as audiências com testemunhas de Anderson Torres
O Supremo Tribunal Federal (STF) deu continuidade nesta quarta-feira (28) às audiências no processo que apura uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O foco das oitivas é o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que indicou mais de 30 testemunhas para serem ouvidas nesta fase.
Cinco Novas Testemunhas Prestam Depoimento
As sessões, que começaram às 8h, contaram com os depoimentos de cinco testemunhas ligadas ao ex-ministro. Entre elas:
- Antonio Ramiro Lourenzo, ex-secretário-executivo do Ministério da Justiça
- Gustavo Henrique Dutra, comandante militar do Planalto no 8 de janeiro
- Jorge Henrique da Silva, ex-coordenador da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança do DF
- Rosivan Correia de Souza, tenente-coronel da Secretaria de Segurança Pública do DF
- Márcio Phurro
Ao todo, 38 pessoas já foram ouvidas no processo. Até a próxima segunda-feira (2), outras 32 testemunhas devem prestar depoimento, entre elas ex-ministros do governo Bolsonaro, delegados da Polícia Federal e antigos colegas de Torres na segurança pública do DF.
Depoimentos Reforçam Alerta de Risco e Falhas de Prevenção
Na terça-feira (27), o ex-diretor-adjunto da Abin, Saulo Moura, revelou que o governo federal foi alertado com antecedência sobre o risco de ataques à sede dos Três Poderes. Segundo ele, a Abin enviou em 6 de janeiro uma comunicação ao Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) apontando a presença de manifestantes armados e com intenções violentas.
Outro depoimento marcante foi o de Cintia Queiroz, ex-subordinada de Torres na Secretaria de Segurança Pública do DF. Ela afirmou que o Protocolo de Ações Integradas elaborado antes do 8 de janeiro poderia ter evitado a invasão, se tivesse sido seguido corretamente. Cintia relatou ainda que soube pelo WhatsApp da chegada de caravanas de manifestantes e convocou uma reunião emergencial para tentar coordenar a resposta.
Atuação da PRF nas Eleições Também É Questionada
As audiências também abordaram ações da Polícia Rodoviária Federal durante o período eleitoral. O ex-diretor de operações da PRF, Djairlon Henrique, confirmou ter recebido ordens do Ministério da Justiça para realizar blitz em ônibus vindos do Nordeste antes das eleições. Ele alegou que as ações ocorreram entre 21 e 27 de outubro e não tinham intenção de interferir no pleito.
Já Adiel Alcântara, ex-coordenador de Análise de Inteligência da PRF, declarou na semana anterior que Djairlon teria dito que “era hora da PRF tomar lado”, ao justificar a orientação das blitzes.
Delegado Surpreendido por Investigação Durante Audiência
Um episódio inesperado ocorreu durante o depoimento do delegado da Polícia Federal Caio Rodrigo Pelim, arrolado como testemunha por Torres. Pelim foi informado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, de que figura como investigado em um inquérito separado, que trata da atuação da PRF nas eleições.
Com a nova informação, o ministro Alexandre de Moraes determinou que Pelim fosse ouvido como investigado, assegurando-lhe o direito ao silêncio. O delegado demonstrou surpresa ao tomar conhecimento da sua condição processual logo na primeira pergunta.
Conclusão
As audiências em curso no STF evidenciam um conjunto de alertas ignorados e falhas na articulação das forças de segurança nos dias que antecederam o 8 de janeiro de 2023. Os depoimentos colhidos até agora reforçam que havia informações e instrumentos de prevenção disponíveis, mas que não foram plenamente utilizados. Com mais de 30 testemunhas ainda a serem ouvidas, o processo segue reunindo elementos para apurar as responsabilidades de autoridades envolvidas antes, durante e após os atos de vandalismo registrados em Brasília.