Politica

Descontentamento com governo Lula ultrapassa apoio popular, mostra pesquisa

O cenário político brasileiro passa por um momento de atenção crescente, especialmente em relação à avaliação pública do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma pesquisa recente realizada pelo Instituto Ipespe revelou que 54% da população desaprova a forma como o atual governo federal tem conduzido o país, enquanto 40% ainda se mostram favoráveis à administração petista. O restante dos entrevistados afirmou não ter opinião formada ou preferiu não responder.

Essa fotografia do sentimento popular reflete não apenas percepções sobre políticas pontuais, mas um balanço mais amplo da atuação de Lula desde o início do atual mandato, iniciado em janeiro de 2023. Apesar das promessas de reconstrução nacional, estabilidade econômica e pacificação política, parte considerável dos brasileiros parece frustrada com os resultados entregues até agora.

Clima de frustração cresce entre diversos setores

A desaprovação de mais da metade da população não é uniforme e tem raízes variadas. Entre os principais motivos apontados pelos críticos da gestão estão o alto custo de vida, a sensação de estagnação econômica, impasses políticos com o Congresso e uma percepção de falta de avanço em temas centrais como segurança pública e saúde.

Em entrevistas qualitativas feitas por institutos paralelos, eleitores de regiões metropolitanas relataram que, embora tivessem expectativa de melhorias, especialmente após o conturbado final do governo anterior, não veem mudanças significativas no cotidiano. Reclamações frequentes incluem o preço elevado dos alimentos, falta de emprego formal e a percepção de que promessas de campanha ficaram no discurso.

Aprovados apontam recuperação econômica e programas sociais

Do outro lado da pesquisa, os 40% que aprovam o governo destacam medidas voltadas à proteção social, como a retomada e ampliação de programas de transferência de renda, valorização do salário mínimo e políticas voltadas à educação técnica. Para esse grupo, ainda que os desafios permaneçam, há uma direção clara de reconstrução, após o que classificam como anos de retrocesso institucional.

O apoio se concentra principalmente entre pessoas de menor renda e eleitores do Nordeste, onde programas sociais têm maior impacto direto na qualidade de vida. Nesse grupo, Lula continua sendo visto como um político com histórico de atenção aos mais pobres, embora mesmo entre esses eleitores tenha havido queda na empolgação inicial.

Divisões por idade, escolaridade e renda

A pesquisa também identificou nuances importantes nos níveis de aprovação e desaprovação conforme a faixa etária, escolaridade e renda dos entrevistados. Jovens com idade entre 16 e 24 anos mantêm um índice de aprovação relativamente mais alto, o que pode indicar uma conexão maior com propostas voltadas à educação, emprego e inclusão digital. Por outro lado, adultos entre 45 e 59 anos aparecem como os mais críticos, talvez por enfrentarem maiores dificuldades no mercado de trabalho ou estarem mais atentos à situação fiscal do país.

Em relação à renda, o governo encontra maior aprovação entre aqueles que recebem até dois salários mínimos. Já entre a população com renda acima de cinco salários mínimos, o índice de desaprovação sobe consideravelmente, alimentado por críticas a políticas econômicas e tributárias vistas como desfavoráveis ao setor produtivo.

Cenário político instável e desconfiança nas instituições

A polarização política continua sendo um fator marcante no país, o que influencia diretamente nas taxas de avaliação de qualquer governo. Parte do eleitorado ainda vota e avalia com base em alianças ideológicas e lembranças de mandatos anteriores. Soma-se a isso a atuação do Congresso Nacional, frequentemente visto como um entrave para as propostas do Executivo, e a relação tensa com setores do Judiciário.

Esse ambiente gera desconfiança sobre a real capacidade de governabilidade e eficácia das políticas anunciadas. Mesmo entre apoiadores, há preocupação com a lentidão para aprovação de reformas estruturais prometidas durante a campanha presidencial.

Expectativas para o restante do mandato

Com um índice de desaprovação superior ao de aprovação, o governo Lula terá de enfrentar o desafio de reverter a percepção negativa, especialmente entre os setores médios e a população das regiões Sul e Centro-Oeste. Isso exigirá não apenas maior eficácia na comunicação institucional, mas também entregas concretas em áreas como emprego, segurança pública e inflação.

Economistas e analistas políticos observam que o tempo para ajustes ainda existe, mas as margens estão cada vez mais apertadas. A forma como o governo enfrentará os próximos desafios — como a reforma tributária, investimentos em infraestrutura e programas de combate à desigualdade — poderá definir o tom político do restante do mandato.

O termômetro da opinião pública mostra que a sociedade brasileira está em alerta. A próxima rodada de pesquisas dirá se o governo conseguirá reconquistar parte do apoio perdido ou se a tendência de desgaste continuará a crescer.

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