Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e ícone da esquerda, aos 89 anos
O ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, faleceu nesta terça-feira aos 89 anos, deixando um legado marcado por simplicidade, coerência ideológica e forte engajamento social. Mujica era considerado um dos líderes mais autênticos da política latino-americana e um símbolo da esquerda progressista no continente.
Nascido em Montevidéu em 1935, Mujica iniciou sua trajetória política como integrante do movimento guerrilheiro Tupamaros, durante a década de 1960. Foi preso diversas vezes e passou quase 15 anos nas penitenciárias uruguaias, incluindo longos períodos em condições extremas de isolamento. Após o fim da ditadura militar, em 1985, ele se reintegrou à vida política e ajudou a fundar o Movimento de Participação Popular (MPP), que viria a se tornar a principal força do partido Frente Ampla.
Eleito presidente do Uruguai em 2009, Mujica governou o país entre 2010 e 2015. Seu mandato foi marcado por uma série de reformas progressistas, como a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a regulamentação da maconha e o fortalecimento de programas sociais. Apesar de ocupar o cargo mais alto do país, Mujica optou por viver em sua modesta chácara na zona rural de Montevidéu, recusando-se a viver no palácio presidencial e doando grande parte de seu salário para instituições de caridade.
Mesmo após deixar a presidência, Mujica permaneceu uma figura influente na política e continuou ativo como senador até 2020, quando renunciou alegando problemas de saúde e cansaço da vida pública. “O ódio é uma carga muito pesada para carregar”, disse ao se despedir do Senado, em mais um de seus discursos marcantes.
A morte de Mujica representa o fim de uma era para muitos uruguaios e admiradores ao redor do mundo. Reconhecido por sua honestidade, desapego material e firmeza de princípios, ele se tornou uma referência moral e política que ultrapassou fronteiras. Diversos líderes mundiais expressaram pesar e destacaram sua contribuição para a construção de uma América Latina mais justa e igualitária.
O Uruguai decretou luto oficial e está organizando uma cerimônia pública para homenagear seu ex-presidente. A população já começa a se reunir em frente ao Palácio Legislativo, levando flores e mensagens de gratidão ao “presidente mais pobre do mundo”, como era carinhosamente chamado.