Tarifas continuarão a influenciar a inflação e o crescimento econômico ao longo de 2025, afirma diretor do Fed
As recentes políticas comerciais anunciadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já estão gerando preocupações dentro do Federal Reserve. Segundo o diretor da instituição, Michael Barr, a imposição de tarifas em larga escala pode ter impactos negativos significativos sobre a inflação, o crescimento econômico e o mercado de trabalho ainda em 2025.
Pressão inflacionária e desafios nas cadeias de suprimentos
Em evento realizado nesta sexta-feira (9) pelo banco central da Islândia, Barr afirmou que o tamanho e o alcance das tarifas são inéditos na era moderna, e ainda não é possível mensurar completamente seus efeitos. No entanto, ele destacou que os riscos já são evidentes. “Tarifas mais altas podem desorganizar as cadeias de suprimentos globais e manter a inflação em alta por um período prolongado”, afirmou.
De acordo com o diretor, a realocação das redes de fornecimento levará tempo, e pequenas empresas, com menor capacidade de adaptação, correm o risco de não sobreviver à nova conjuntura. Esse cenário tende a pressionar os custos de produção e, por consequência, os preços ao consumidor.
Crescimento sob ameaça e risco de aumento no desemprego
Além da inflação, Barr expressou preocupação com o impacto das tarifas no desempenho da economia como um todo. Ele alertou que o ritmo de crescimento pode diminuir, e isso pode resultar em aumento do desemprego. Para o Fed, esse possível cenário de alta simultânea na inflação e no desemprego representa um dilema de política monetária difícil de gerenciar.
“O banco central pode se encontrar em uma situação desafiadora caso esses dois indicadores se deteriorem ao mesmo tempo”, afirmou Barr.
Fed adota postura cautelosa diante das incertezas
Os comentários do diretor do Fed seguem a mesma linha do presidente da instituição, Jerome Powell, que nesta semana sinalizou uma abordagem mais cautelosa quanto à definição das taxas de juros. A autoridade monetária optou por manter os juros inalterados e aguardar os desdobramentos das novas tarifas antes de fazer novos ajustes.
Segundo Barr, a economia ainda mostra sinais de força, com crescimento sólido e desemprego baixo, mas o impacto das tarifas é incerto e exige paciência na análise dos próximos passos. “Ainda não sabemos como essas medidas vão evoluir, então é necessário observar com cuidado”, disse.
Mudanças internas no Fed e tensões políticas
Barr também foi destaque recentemente por renunciar ao cargo de vice-presidente de supervisão do Fed em fevereiro, em meio a divergências com Donald Trump. Indicado por Joe Biden, Barr defendia uma regulação mais rigorosa para o setor bancário — posição criticada por Michelle Bowman, indicada por Trump para substituí-lo na função.
Mesmo fora da vice-presidência, Barr permanece como diretor do banco central, e esta foi sua primeira fala pública sobre política monetária em cerca de um ano.
Conclusão
As declarações de Michael Barr evidenciam o grau de preocupação dentro do Federal Reserve em relação aos possíveis efeitos das tarifas implementadas por Trump. O aumento da inflação, a desaceleração do crescimento e o risco de desemprego formam uma combinação perigosa que exigirá decisões difíceis da autoridade monetária. Com o cenário ainda em formação, o Fed aposta na cautela para responder aos novos desafios da política comercial norte-americana.