Tarifa de 80% sobre produtos chineses é considerada adequada por Trump
Em meio às crescentes tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, o ex-presidente Donald Trump voltou a defender uma política tarifária mais dura contra o gigante asiático. Em declarações recentes, Trump avaliou que uma tarifa de 80% sobre os produtos chineses seria, em suas palavras, uma medida “correta”. A fala reacende debates em torno das relações comerciais entre as duas maiores economias do mundo e aponta para uma possível escalada protecionista caso Trump retorne ao poder nas eleições presidenciais de 2024.
O posicionamento reforça a linha dura adotada por Trump durante seu mandato anterior, quando impôs uma série de sanções tarifárias à China em resposta ao que classificava como práticas comerciais desleais, incluindo subsídios industriais, manipulação cambial e roubo de propriedade intelectual. Segundo Trump, uma tarifa de 80% funcionaria como um contrapeso necessário diante da balança comercial historicamente deficitária dos EUA com o país asiático.
A proposta, apesar de simples em sua formulação, traz implicações complexas. Especialistas em comércio exterior alertam que uma taxação nesse nível teria impactos profundos não só nas importações chinesas, mas também na cadeia produtiva norte-americana, já fortemente dependente de insumos e componentes vindos da China. Produtos eletrônicos, equipamentos industriais, itens de consumo e peças automotivas seriam diretamente afetados, gerando aumentos de preços no mercado doméstico, possíveis gargalos logísticos e reações adversas do setor empresarial.
Na prática, uma tarifa de 80% implicaria praticamente uma barreira alfandegária para boa parte dos produtos chineses, tornando-os proibitivos para grande parte dos consumidores e empresas dos EUA. O argumento de Trump, contudo, é de que tal medida não apenas estimularia a indústria nacional, como forçaria empresas americanas a relocalizar fábricas e centros de distribuição para solo norte-americano — o que ele descreve como um passo para “reconstruir a América”.
Economistas, por outro lado, destacam que medidas protecionistas dessa magnitude tendem a desencadear represálias. Em episódios anteriores, a China respondeu às tarifas de Trump com suas próprias taxações sobre produtos agrícolas, industriais e de tecnologia dos EUA. Um aumento unilateral de tarifas poderia, portanto, aprofundar o impasse diplomático e comercial entre os dois países, com prejuízos bilaterais em áreas sensíveis como tecnologia, energia e alimentos.
Vale lembrar que os EUA já mantêm atualmente centenas de bilhões de dólares em tarifas sobre produtos chineses desde o início da chamada “guerra comercial” em 2018. Essas medidas foram mantidas — e em alguns casos até ampliadas — durante a gestão de Joe Biden, embora com um discurso mais moderado e voltado à negociação multilateral. A fala de Trump, nesse sentido, representa um aceno claro a uma eventual política de ruptura mais radical, caso venha a assumir novamente a presidência.
Internamente, a proposta de tarifa elevada tem ressonância entre parte do eleitorado americano, sobretudo em estados industriais do Meio-Oeste, onde muitos trabalhadores viram suas fábricas fecharem nas últimas décadas, com a migração da produção para a Ásia. A retórica de Trump se ancora nessa frustração, apresentando o protecionismo como solução para a desindustrialização e o desemprego estrutural.
No entanto, a implementação de uma tarifa tão elevada exigiria não apenas capital político significativo, mas também a construção de uma base legal sólida dentro da Organização Mundial do Comércio (OMC), que poderia ver a medida como violação aos acordos multilaterais de comércio dos quais os EUA são signatários. Além disso, aliados estratégicos dos EUA — que também dependem de cadeias de suprimento ligadas à China — poderiam contestar ou se distanciar de uma política unilateral extrema.
A fala de Trump surge em meio ao início de um novo ciclo eleitoral nos Estados Unidos, onde as questões econômicas e comerciais têm ganhado destaque nas discussões públicas. A percepção de que a China representa uma ameaça econômica, tecnológica e até geopolítica se tornou praticamente um consenso bipartidário em Washington, embora as estratégias para lidar com essa ameaça variem entre republicanos e democratas.
Mesmo sem estar no poder, Trump continua influente na definição da pauta política do Partido Republicano. Suas declarações, portanto, não apenas sinalizam o que seria uma possível política externa em um novo mandato, como também pressionam seus adversários internos a adotar posições mais rígidas em relação à China. Isso pode levar a um endurecimento geral do discurso político norte-americano sobre o comércio exterior nos próximos meses.
Em síntese, a avaliação de que uma tarifa de 80% “parece correta” — embora não oficializada como política pública — é mais do que uma simples opinião: é um sinal claro de que, para Trump, a contenção do avanço chinês exige medidas drásticas, mesmo que controversas. A resposta do eleitorado, do setor produtivo e da comunidade internacional a essa visão determinará o rumo que os Estados Unidos poderão seguir nas próximas eleições e nos embates comerciais que estão por vir.