Risco de crescimento econômico é apontado por Rehn, do BCE, apesar de avanço na desinflação do euro
Olli Rehn, integrante do conselho do Banco Central Europeu (BCE) e presidente do Banco da Finlândia, apontou recentemente que, embora a trajetória da desinflação na zona do euro esteja avançando de forma consistente, os riscos que cercam o crescimento econômico da região permanecem significativos. A observação foi feita em meio a um cenário de enfraquecimento das atividades produtivas, aumento da fragilidade nas cadeias globais de suprimento e incertezas persistentes no ambiente macroeconômico internacional.
Ao longo dos últimos trimestres, a economia da zona do euro tem passado por uma fase de moderação nos níveis de inflação, especialmente após uma onda inflacionária provocada por fatores externos como o aumento abrupto dos preços de energia, choques logísticos pós-pandemia e os impactos da guerra na Ucrânia. O BCE adotou uma política monetária firme desde meados de 2022, com sucessivas elevações nas taxas de juros como forma de conter o avanço dos preços e restaurar a estabilidade inflacionária.
Essa estratégia vem apresentando resultados visíveis. O núcleo da inflação — que exclui os itens mais voláteis, como energia e alimentos — está em desaceleração, indicando que os mecanismos de contenção de preços estão surtindo efeito. A expectativa, segundo projeções internas do BCE, é de que a inflação retorne gradualmente à meta de 2% ao longo dos próximos trimestres. Rehn destaca que essa tendência, embora positiva, ainda requer cautela, já que a desinflação ainda não se consolidou totalmente nos setores de serviços e mão de obra, onde os reajustes salariais seguem pressionando os custos.
Contudo, o alívio inflacionário não tem sido acompanhado de um fortalecimento proporcional na atividade econômica. Pelo contrário, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro tem se mostrado lento, irregular e vulnerável a choques externos. Países como Alemanha e Itália, que possuem grande peso na economia regional, vêm enfrentando desafios estruturais, como queda nas exportações, investimentos contidos e recuo na confiança industrial.
Para Rehn, esse enfraquecimento do crescimento é motivo de atenção, pois compromete a recuperação sustentável da região e pode limitar a eficácia de medidas monetárias futuras. A própria política de juros altos, embora necessária para conter a inflação, impõe custos à atividade econômica, encarecendo o crédito para famílias e empresas. Com isso, investimentos produtivos são adiados, o consumo desacelera e a criação de empregos fica comprometida.
Outro ponto levantado por Rehn é a vulnerabilidade do bloco europeu diante das transformações geopolíticas e econômicas em curso no mundo. A crescente rivalidade entre grandes potências, as tensões em torno do comércio internacional e a transição energética global alteram o padrão de demanda e oferta com o qual a Europa estava habituada. A zona do euro, com sua forte dependência de cadeias externas de fornecimento e de mercados globais para suas exportações, sofre impactos diretos dessas mudanças.
Adicionalmente, o crescimento desigual entre os países do bloco acentua os desafios para a condução de uma política monetária unificada. Enquanto economias mais resilientes conseguem absorver os efeitos das taxas elevadas, outras, mais fragilizadas, enfrentam maiores dificuldades em manter equilíbrio fiscal, controlar o endividamento e estimular sua produção interna. Esse cenário exige que o BCE atue com equilíbrio entre o combate à inflação e a preservação da atividade econômica.
Rehn afirma que, nesse contexto, o Banco Central Europeu continuará atuando com base em dados atualizados e análises técnicas rigorosas, tomando decisões de política monetária reunião a reunião. A instituição não deve se comprometer antecipadamente com um ritmo fixo de cortes ou elevações de juros, mas sim ajustar sua estratégia conforme as dinâmicas de inflação, crescimento e estabilidade financeira evoluírem. A prioridade, reforça ele, é proteger o poder de compra da população sem asfixiar a capacidade de retomada da economia.
Apesar dos avanços na contenção da inflação, a autoridade do BCE reforça que os próximos meses serão decisivos para avaliar o comportamento dos preços e os sinais de reação da economia real. A eventual retomada da atividade produtiva dependerá não apenas das decisões do BCE, mas também de políticas fiscais coordenadas, investimentos estratégicos em infraestrutura e inovação, além de reformas estruturais nos países membros da zona do euro.
Dessa forma, o equilíbrio entre a trajetória de queda da inflação e a proteção ao crescimento torna-se o grande desafio do momento para a política monetária europeia. Enquanto a desinflação parece se firmar como uma tendência, a fragilidade da expansão econômica coloca em xeque os próximos passos das autoridades financeiras. O BCE, segundo Rehn, está ciente desse dilema e buscará atuar com responsabilidade, cautela e pragmatismo para manter a estabilidade e a confiança na moeda única europeia.