Economia

Correios encerram 2024 com prejuízo recorde de R$ 2,6 bilhões

O exercício de 2024 terminou de forma alarmante para os Correios. A empresa pública de serviços postais e logística do Brasil reportou um prejuízo de R$ 2,6 bilhões, marcando um dos piores desempenhos financeiros da sua história recente. O salto no resultado negativo em relação aos anos anteriores reacendeu os debates sobre a sustentabilidade econômica da estatal, os desafios da sua gestão operacional e as estratégias necessárias para garantir sua sobrevivência e modernização.

A cifra de R$ 2,6 bilhões não é apenas simbólica: representa quase metade do déficit consolidado de todas as estatais federais não financeiras naquele ano, excluindo gigantes como Petrobras, Eletrobras e os bancos públicos. O dado revela que os Correios sozinhos concentram um impacto significativo sobre as contas do setor público, o que exige atenção especial por parte do governo e dos órgãos de controle.

Segundo fontes ligadas à direção da empresa, o rombo financeiro reflete uma combinação de fatores acumulados, entre eles a redução na demanda por serviços tradicionais dos Correios, a competição crescente com plataformas de logística privadas e marketplaces internacionais, e o peso de obrigações herdadas de gestões passadas. Um dos componentes mais significativos dessa pressão é a dívida relacionada ao fundo de pensão dos funcionários, o Postalis, que vem impactando negativamente os balanços há anos.

Ainda que a desvalorização da atividade postal seja uma tendência global, a velocidade com que isso afetou os Correios brasileiros foi agravada por decisões políticas e econômicas recentes. Uma delas foi a chamada “taxa das blusinhas”, aplicada a partir do segundo semestre de 2024. A medida estabeleceu tributação sobre compras internacionais de pequeno valor — especialmente de sites asiáticos —, o que reduziu drasticamente o volume de encomendas internacionais processadas pela estatal. Em questão de meses, os Correios viram sua fatia nesse segmento cair de 98% para cerca de 30%, prejudicando diretamente sua principal fonte de receitas em crescimento nos últimos anos.

Ainda que os efeitos da taxa tenham sido sentidos apenas nos meses finais do ano, a frustração na arrecadação gerada por essa medida foi suficiente para aprofundar um déficit que já vinha se formando. Esperava-se que os repasses federais com a arrecadação da nova tarifa compensassem parte das perdas, mas o valor recolhido ficou muito abaixo do projetado, refletindo menor volume de importações do que o estimado inicialmente.

Contudo, especialistas apontam que o problema dos Correios é estrutural e não pode ser atribuído apenas a políticas pontuais. A estatal acumula anos de baixa capacidade de investimento, infraestrutura envelhecida, processos burocráticos e ausência de inovação tecnológica à altura da concorrência privada. Além disso, o comprometimento com a universalização dos serviços postais — obrigação que impõe presença física em regiões de baixa rentabilidade — limita a flexibilidade da empresa para focar em nichos mais lucrativos.

Em resposta ao desempenho negativo, a atual gestão dos Correios vem implementando medidas de contenção de despesas e reestruturação administrativa. Entre elas, estão a renegociação de contratos com fornecedores, suspensão temporária de contratações de terceirizados, corte de gastos operacionais e imposição de um teto de despesas para 2024. O objetivo é evitar que o prejuízo se aprofunde ainda mais nos próximos anos e preparar terreno para uma possível recuperação financeira.

No âmbito governamental, a Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais acompanha de perto a situação dos Correios e já reconhece a empresa como um dos principais focos de preocupação entre todas as estatais. A avaliação interna é de que, sem uma reestruturação mais profunda, o risco de insolvência a médio prazo não pode ser descartado.

Apesar do cenário adverso, a atual diretoria da estatal afirma estar comprometida com um plano de recuperação capaz de colocar os Correios novamente no rumo da sustentabilidade financeira. As projeções internas indicam que, com as medidas adotadas e a recuperação parcial do volume de encomendas, o prejuízo em 2025 pode ser reduzido. No entanto, não há expectativas realistas de retorno ao lucro antes de 2026.

O prejuízo de R$ 2,6 bilhões não é apenas um número contábil. Ele simboliza um ponto de inflexão para uma das instituições públicas mais antigas e tradicionais do país. Os desafios que os Correios enfrentam envolvem não só finanças, mas também sua identidade e papel em uma economia cada vez mais digital, integrada e competitiva. A forma como a estatal reagirá a essa crise definirá não apenas seu futuro, mas também o de milhões de brasileiros que ainda dependem de seus serviços em áreas remotas e desassistidas.

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