O confisco da poupança completou 35 anos pouco antes da prisão de Collor
O confisco dos depósitos nas cadernetas de poupança, uma das medidas mais impactantes do governo de Fernando Collor de Mello, completou 35 anos no último dia 16 de março. A medida, que ficou marcada como um dos maiores momentos da história econômica pós-redemocratização do Brasil, foi um dos componentes do pacote de estabilização econômica implementado logo após sua posse em 1990. O episódio foi um choque para a população, que viu seu dinheiro ser bloqueado pelo governo como parte do chamado “Plano Collor”, um esforço para combater a hiperinflação que devastava a economia brasileira.
Naquele período, a medida de confisco foi anunciada como uma solução drástica, mas necessária, para tentar estabilizar a economia, controlando a inflação galopante. As cadernetas de poupança foram bloqueadas por 18 meses, e os depósitos ficaram sujeitos a correção monetária e juros limitados a 6% ao ano, o que gerou um grande tumulto nos bancos. No dia seguinte ao anúncio, as agências bancárias ficaram fechadas por três dias, criando um caos nas portas dos estabelecimentos quando reabriram, com milhões de brasileiros desesperados para tentar resgatar seus recursos.
O Impacto Econômico do Plano Collor
O “Plano Collor Um”, que entrou em vigor em 1990, foi projetado por uma equipe liderada pela então ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, junto com o secretário de Planejamento, Antônio Kandir, e o presidente do Banco Central, Ibrahim Eris. O plano buscava enfrentar uma inflação que beirava os 80% ao mês, com supermercados remarcando preços a toda hora e produtos aumentando de preço de um mês para o outro.
Além do confisco, o plano impôs uma série de medidas rigorosas, como o controle de preços e salários, aumento de tarifas de serviços essenciais (como energia elétrica e transporte público), e um ajuste fiscal severo, com cortes de subsídios e o aumento de impostos. O impacto foi profundo, com a demissão de cerca de cem mil servidores públicos e a extinção de diversas empresas estatais, como a Portobras, a Siderbrás e a EBTU. A economia brasileira, que já vivia um momento de turbulência, foi forçada a enfrentar esses novos ajustes.
A Prisão de Fernando Collor: 35 Anos Após o Confisco
Coincidentemente, 35 anos depois do confisco, o ex-presidente Fernando Collor de Mello voltou ao centro das atenções, mas desta vez por um motivo bem diferente: sua prisão. Na última sexta-feira (25), Collor foi preso após uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-presidente foi condenado em 2023 por sua participação em um esquema de corrupção envolvendo a BR Distribuidora (atualmente conhecida como Vibra). A prisão foi decretada após o ministro rejeitar o segundo recurso da defesa de Collor, que tentava reverter a sentença de oito anos e dez meses de prisão.
A prisão ocorreu durante a madrugada de sexta-feira, quando Collor, segundo a defesa, estava se deslocando para Brasília para cumprir a decisão de forma espontânea. A situação marcou mais um capítulo na vida política do ex-presidente, que já havia sido alvo de um impeachment em 1992, no contexto de denúncias de corrupção durante seu governo.
Conclusão
O governo de Fernando Collor de Mello foi marcado por medidas controversas que alteraram profundamente o cenário econômico do Brasil. O confisco da poupança, embora tenha gerado um grande impacto social e econômico, foi apenas uma das medidas de um pacote que visava combater a hiperinflação e reorganizar a economia brasileira. Trinta e cinco anos após esse marco, a prisão do ex-presidente reviverá discussões sobre seu legado e a eficácia das políticas adotadas em sua gestão.
Enquanto o Brasil continua a lidar com os reflexos daquele período, a prisão de Collor reafirma o quanto sua trajetória política foi marcada por contradições. De líder jovem e promissor a presidente que tomou decisões drásticas para estabilizar a economia, até ser preso por envolvimento em esquemas de corrupção, o ex-presidente deixa uma marca indelével na história do país.