Economia

Diretor do Banco Central afirma ter dúvidas sobre a eficácia do uso do “forward guidance”

Durante um evento paralelo às reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), realizado em Washington, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, afirmou nesta quarta-feira (23) que vê com ceticismo o uso do forward guidance — ferramenta utilizada para sinalizar ao mercado os rumos futuros da política monetária.

Segundo o diretor, os altos níveis de incerteza já presentes entre as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) tornam o uso desse instrumento ainda mais complicado no atual cenário, marcado por volatilidade. “Eu não sou um grande fã do forward guidance”, declarou, acrescentando que essa prática só faria sentido se o país estivesse consideravelmente desalinhado de seu ponto de equilíbrio econômico.

Incerteza nas projeções e impacto das tarifas

Nilton destacou que fatores externos, como as dúvidas em torno das tarifas comerciais dos Estados Unidos, adicionam complexidade ao ambiente já incerto. Ele também apontou que variáveis como a taxa de câmbio têm influência significativa nas projeções de inflação do Banco Central, podendo causar variações superiores a 1 ponto percentual.

Embora não tenha comentado diretamente sobre o guidance incluído na última reunião do Copom, realizada em março, Nilton mencionou que, em dezembro, o comitê elevou a taxa Selic em 1 ponto percentual e indicou futuras altas para sinalizar ao mercado uma postura mais rígida de combate à inflação.

Fim dos estímulos pontuais à atividade econômica

Nilton David também comentou que os recentes episódios de crescimento econômico acima do esperado, apesar dos juros elevados, foram provocados por eventos pontuais, que não devem se repetir nos próximos meses. Segundo ele, esses estímulos temporários impulsionaram a atividade e o crédito, mas a economia parece ter atingido um ponto de estabilidade.

Apesar desse quadro, ele acredita que o mercado de trabalho deve ser um dos últimos a mostrar sinais de desaceleração, devido à sua resiliência em momentos de transição econômica.

Conclusão

As declarações de Nilton David apontam para uma postura cautelosa do Banco Central diante do atual cenário de incertezas internas e externas. O ceticismo em relação ao forward guidance reflete uma leitura realista das limitações dessa ferramenta, especialmente em um ambiente econômico com tantas variáveis instáveis. A expectativa é de que o Copom continue avaliando os dados com atenção antes de tomar decisões mais definitivas sobre os próximos passos da política monetária.

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