Trump precisou de três meses para provar que o inferno existe
Em apenas três meses de uma hipotética nova administração de Donald Trump — ou mesmo nos primeiros 90 dias de sua campanha intensificada para voltar à presidência dos Estados Unidos — o ex-presidente norte-americano já causou alvoroço suficiente para reforçar o temor de que um segundo mandato seu possa mergulhar os EUA (e o mundo) num verdadeiro inferno político, institucional e econômico.
Desde que retomou protagonismo na corrida pela Casa Branca, Trump não perdeu tempo em acirrar conflitos, atacar instituições e retomar promessas radicais que abalam a democracia americana. Seu discurso tem sido cada vez mais agressivo, repleto de ameaças explícitas a opositores e promessas de “vingança” contra membros do judiciário, da mídia e da própria elite política norte-americana — o que, para muitos analistas, aponta para uma escalada autoritária ainda mais grave do que a vivida em seu primeiro mandato.
Promessas de retaliação
Trump tem prometido “limpar” o chamado deep state (estado profundo) e demitir milhares de funcionários públicos para colocar aliados leais em seus lugares. Mais do que retórica, há planos já detalhados por seus conselheiros para reformar profundamente as agências federais, reduzir a independência do FBI, do Departamento de Justiça e da Receita Federal — e tudo isso sob o pretexto de “recuperar a América”.
Ao mesmo tempo, ele segue questionando os resultados da eleição de 2020, alimentando teorias da conspiração e colocando em xeque a legitimidade do sistema eleitoral, algo que pode colocar o país novamente à beira do caos em caso de derrota futura.
Isolacionismo e nova guerra comercial
No cenário internacional, Trump voltou a ameaçar aliados da OTAN, insinuando que países europeus que não aumentarem seus gastos com defesa não teriam mais o apoio dos EUA em caso de guerra. Também intensificou a retórica contra a China, anunciando que pretende impor tarifas de até 60% sobre produtos chineses — uma medida que já provocou reações negativas em mercados globais e acendeu o alerta de uma possível nova guerra comercial.
Se essa política for aplicada, economistas preveem impactos negativos imediatos, tanto na inflação americana quanto no comércio mundial. Em outras palavras: o mundo todo pode pagar pela política de confronto de Trump.
Direitos em risco
No plano interno, o ex-presidente já sinalizou que pode pressionar para reverter decisões da Suprema Corte que garantem direitos civis e liberdades individuais. Grupos de minorias — incluindo imigrantes, comunidade LGBTQIA+ e mulheres — voltam a ser alvos diretos de seu discurso ultraconservador.
A proposta de usar forças armadas para reprimir protestos em solo americano, defendida por Trump após as manifestações de 2020, também voltou à mesa. A perspectiva de uso de instrumentos estatais para sufocar a oposição e limitar o dissenso já é tratada com seriedade por organizações de defesa dos direitos humanos.
“O inferno está só começando”
Para críticos e analistas políticos, a velocidade com que Trump tem incendiado o debate público e radicalizado suas propostas nos últimos três meses é um prenúncio sombrio. Como disse um ex-funcionário de alto escalão da Casa Branca sob anonimato ao Washington Post: “Se no primeiro mandato ele testou os limites, no segundo ele quer destruí-los. E o inferno, definitivamente, está só começando.”
Em meio a um cenário polarizado e com instituições ainda se recuperando dos abalos anteriores, os Estados Unidos parecem caminhar para uma eleição decisiva — não apenas sobre quem ocupará a Casa Branca, mas sobre que tipo de país a maior democracia do mundo deseja ser.