Quem é o ideólogo por trás do líder chinês Xi Jinping
Por trás da figura austera e centralizadora de Xi Jinping, presidente da China e secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC), está um nome pouco conhecido fora dos círculos acadêmicos e políticos chineses, mas fundamental para entender o rumo ideológico do país nas últimas décadas: Wang Huning.
Intelectual refinado, teórico político e hoje um dos membros mais influentes do alto escalão do PCC, Wang Huning é apontado como o principal arquiteto ideológico por trás da era Xi Jinping — e, antes dele, também das diretrizes políticas sob Jiang Zemin e Hu Jintao. A sua permanência no centro do poder chinês ao longo de diferentes governos o torna um dos estrategistas mais longevos e discretos do país.
O pensador do Partido
Wang nasceu em 1955, em Xangai, e se destacou ainda jovem como professor de ciência política na prestigiada Universidade Fudan. Fluente em francês, com domínio de inglês e uma paixão por filosofia ocidental, ele estudou profundamente autores como Montesquieu, Tocqueville, Hobbes e Carl Schmitt. No entanto, foi ao escrever sobre o sistema político norte-americano, em sua obra “America Against America” (1988), que Wang atraiu a atenção dos líderes do PCC.
Nesse livro, baseado em uma viagem aos EUA no final dos anos 1980, Wang fez uma crítica contundente ao modelo americano. Ele argumentou que, apesar de sua prosperidade material, os EUA sofriam de uma fragmentação moral e social que os tornaria vulneráveis a médio e longo prazo. A obra virou leitura obrigatória nos círculos do Partido e consolidou a imagem de Wang como um pensador que via com ceticismo o liberalismo ocidental e acreditava na necessidade de um Estado forte.
De intelectual a homem do poder
Convocado ao centro político do Partido em Pequim nos anos 1990, Wang Huning se tornou conselheiro direto de Jiang Zemin e, posteriormente, de Hu Jintao. No governo Xi Jinping, sua influência cresceu ainda mais. Ele ajudou a formular os conceitos de “Sonho Chinês” e “Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era”, que são os pilares do pensamento de Xi.
Wang também defende um modelo que mistura nacionalismo, disciplina social, controle ideológico rígido e inovação econômica — uma espécie de resposta chinesa ao caos político que, segundo ele, caracteriza o Ocidente. É um defensor convicto da estabilidade como valor supremo e vê o Partido Comunista como o único agente capaz de garantir a prosperidade da China.
O homem por trás do trono
Discreto, raramente concede entrevistas e quase nunca aparece em destaque na imprensa, mas sua influência é reconhecida por analistas como fundamental. Enquanto Xi Jinping se tornou o rosto da nova China autoritária e expansionista, Wang Huning é frequentemente visto como a mente que dá forma a essa visão — mais próxima de um império moderno do que de uma democracia.
Se a China se projeta hoje como uma potência que combina controle político centralizado, ambição tecnológica e discurso nacionalista, é em grande parte graças às ideias e aos escritos de Wang Huning. Ele é, de certa forma, o “ideólogo invisível” que molda não apenas o presente da China, mas possivelmente também o seu futuro.