Barroso rebate The Economist e defende “democracia plena” no Brasil
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, reagiu com firmeza às críticas feitas pela revista britânica The Economist, que recentemente publicou uma reportagem questionando o papel da Corte no cenário político brasileiro e apontando um suposto excesso de protagonismo do Judiciário. Em resposta, Barroso afirmou que o Brasil vive uma “democracia plena” e que o STF atua dentro dos limites constitucionais para proteger os pilares do Estado de Direito.
A revista britânica classificou a atuação do Supremo como “hiperativa”, sugerindo que os ministros estariam extrapolando suas funções ao intervir em decisões de outros Poderes, especialmente em temas sensíveis como investigações contra figuras políticas, regulação da liberdade de expressão e eleições.
A resposta de Barroso
Durante um evento jurídico em Brasília, Barroso rebateu ponto a ponto a publicação. “Não há democracia sem um Judiciário independente e sem uma Suprema Corte forte. Defender a Constituição, proteger os direitos fundamentais e garantir a normalidade institucional é exatamente o que temos feito”, declarou.
Ele classificou como “injustas” e “parciais” as críticas da The Economist, e reforçou que, ao contrário do que foi sugerido, o STF tem sido fundamental para garantir a estabilidade democrática do país em tempos de tensão.
“Atuação firme não é ativismo”
Segundo Barroso, a atuação da Corte em casos como as investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, a disseminação de desinformação nas redes e o julgamento de autoridades políticas é uma consequência do próprio contexto brasileiro. “Quando há vácuos, o Judiciário não se omite. Isso não é ativismo judicial — é cumprimento do dever constitucional”, afirmou.
Ele ainda destacou que em nenhuma democracia consolidada o Judiciário é passivo diante de ameaças às instituições. “A democracia brasileira não é perfeita, como nenhuma democracia o é, mas é plenamente funcional e protegida por instituições sólidas”, pontuou.
Contexto internacional e críticas crescentes
A crítica da The Economist ocorre em um momento de crescente atenção internacional ao papel do STF no Brasil. Nas redes sociais, setores da direita têm acusado o Supremo de censura, abuso de poder e perseguição política, especialmente após decisões envolvendo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A reportagem da revista reforça essa narrativa, embora com um viés mais técnico e institucional. Ainda assim, especialistas apontam que o texto ignora o contexto brasileiro recente, marcado por tentativas de ruptura democrática e ataques ao sistema eleitoral.
Repercussão política
A fala de Barroso foi bem recebida por aliados do governo e setores da comunidade jurídica, mas gerou novas críticas de opositores. Parlamentares bolsonaristas voltaram a defender limites à atuação do STF e a aprovação de projetos que reduzam os poderes da Corte.
No entanto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, saiu em defesa do Supremo: “As instituições estão funcionando e cada Poder deve ser respeitado em sua independência. O STF tem cumprido seu papel de forma responsável”.
Democracia testada, mas resiliente
Ao final de sua fala, Barroso afirmou que a democracia brasileira foi testada, mas se mostrou resiliente. “Enfrentamos tentativas de desestabilização, mentiras em escala industrial e ataques às instituições. Mas a democracia venceu. E continuará vencendo com a atuação firme e serena das instituições que a sustentam.”
A controvérsia com a The Economist se insere num debate mais amplo sobre os limites da atuação judicial em tempos de crise institucional — e reforça o protagonismo do STF em um dos períodos mais conturbados da história recente do Brasil.