Bolsonaro recua de postura inicial e solicita alterações no texto da anistia
A trajetória política de Jair Bolsonaro em torno do projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro acaba de ganhar um novo capítulo. Depois de se posicionar publicamente a favor de uma anistia total, sem restrições, o ex-presidente agora solicita alterações no projeto de lei que está em tramitação. A mudança de postura chama atenção por contrastar com o discurso adotado anteriormente, quando ele defendia que todos os envolvidos deveriam ser beneficiados, independentemente do grau de participação nos eventos.
O pedido de revisão sinaliza que Bolsonaro pode estar respondendo a pressões internas, externas ou mesmo à leitura de que o projeto, tal como está formulado, pode não ser viável politicamente ou juridicamente. Embora não tenha sido divulgado com precisão o conteúdo das mudanças solicitadas, o fato de o ex-presidente pedir ajustes após ter adotado uma linha dura em defesa de anistia irrestrita revela nuances em sua estratégia.
A anistia tem sido uma bandeira recorrente entre os apoiadores do ex-presidente, muitos dos quais continuam mobilizados em torno da narrativa de que os julgamentos relacionados ao 8 de janeiro foram excessivos. A proposta inicial, de caráter abrangente, visava incluir desde manifestantes que apenas participaram das mobilizações até figuras acusadas de incitação, planejamento ou mesmo envolvimento direto em ações violentas contra instituições.
No entanto, o ambiente político em torno do projeto se mostrou mais complexo do que o previsto. Setores do Congresso, da opinião pública e do Judiciário demonstraram resistência à ideia de uma anistia ampla, sobretudo diante da gravidade das ações registradas naquele dia. Isso pode ter levado Bolsonaro a recalibrar seu discurso, propondo agora um texto mais ajustado — ou pelo menos dando margem para que isso ocorra.
A revisão solicitada pode indicar que o ex-presidente busca uma forma de viabilizar a aprovação do projeto, ainda que parcialmente, evitando o risco de um texto que seja barrado por completo. Ao abrir espaço para mudanças, ele tenta preservar a essência de sua proposta diante de um ambiente que exige moderação.
Além disso, o pedido de revisão pode ser uma tentativa de manter a coesão entre diferentes setores de sua base, que têm expectativas distintas em relação à abrangência da anistia. Parte de seus aliados prefere uma anistia seletiva, que beneficie apenas manifestantes sem envolvimento direto com atos de violência. Outros insistem na linha mais radical, que inclui até mesmo organizadores e financiadores.
A nova posição de Bolsonaro também pode ser lida como parte de um movimento mais amplo de reposicionamento político. Fora do poder e enfrentando processos que ainda tramitam em diferentes esferas, ele parece buscar um equilíbrio entre manter sua base mobilizada e evitar confrontos diretos com instituições que hoje detêm o controle do processo legislativo e judicial.
Em contextos anteriores, Bolsonaro demonstrou flexibilidade estratégica em momentos de tensão. O pedido de revisão do projeto de anistia se encaixa nessa dinâmica, permitindo que ele mantenha sua imagem como defensor dos aliados, ao mesmo tempo em que se adapta à realidade política que se impõe.
Ainda não se sabe que tipo de revisão será encaminhada, nem se o novo texto poderá unificar as diferentes correntes envolvidas na discussão. O que é certo, por ora, é que o ex-presidente ajusta o rumo sem abandonar a pauta — sinalizando que o tema continuará central em sua atuação nos próximos meses.
O debate sobre anistia, assim, permanece aberto. A atuação de Bolsonaro nesse cenário mostra que, mesmo fora do cargo, ele segue como peça-chave no xadrez político, articulando movimentos e testando os limites do apoio que ainda mobiliza no Congresso e nas ruas.