Politica

Bolsonaro exalta apoio a anistia e descarta peso de alteração nas punições

O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a demonstrar otimismo diante do avanço da proposta de anistia relacionada aos eventos de 8 de janeiro, e fez questão de destacar o número expressivo de assinaturas de apoio reunidas até o momento. Para ele, o apoio crescente representa não apenas força política, mas também respaldo popular à ideia de que os envolvidos nos atos devem ser anistiados. Ao mesmo tempo, ele procurou minimizar o impacto de mudanças na dosimetria — o sistema que define a gradação das penas aplicadas aos réus — apontando que essas alterações não mudam o foco do projeto.

O apoio formal, medido por meio das assinaturas coletadas, tem sido uma das bandeiras levantadas por Bolsonaro nas últimas semanas. O número alcançado é interpretado por seus aliados como um reflexo da adesão popular à causa, e o ex-presidente vem utilizando essa adesão como argumento de validação política. Segundo ele, a mobilização em torno do tema demonstra que há uma “injustiça” a ser corrigida, ainda que essa afirmação seja alvo de controvérsia.

A proposta de anistia é tema sensível e polarizador. Enquanto parte da sociedade e da classe política entende que os atos de 8 de janeiro representam um ataque grave ao Estado democrático de direito, outros setores defendem que muitos dos envolvidos foram punidos de maneira desproporcional. É nesse segundo grupo que se posiciona Bolsonaro, que desde o início tem rechaçado as penas impostas e buscado formas de reverter os processos judiciais contra seus apoiadores.

Recentemente, surgiram discussões sobre mudanças no texto da anistia, especialmente em relação à dosimetria. Isso significa que a proposta poderia passar a tratar de forma diferenciada os níveis de envolvimento dos réus — por exemplo, separando quem apenas participou das manifestações de quem agiu de forma mais violenta ou coordenada. No entanto, Bolsonaro procurou esvaziar o peso dessas modificações, dizendo que o essencial do projeto permanece intacto: anistiar os envolvidos.

Para ele, o debate sobre a dosimetria é técnico e não deve desviar a atenção do ponto central, que seria, em sua visão, o “exagero” das condenações. Essa tentativa de desidratar a polêmica em torno da dosimetria pode ter como objetivo evitar divisões dentro de sua base, já que uma parte dos apoiadores teme que a flexibilização acabe beneficiando uns em detrimento de outros.

A comemoração de Bolsonaro pelas assinaturas também tem valor simbólico. Em um momento em que ele enfrenta processos judiciais, investigações e tenta manter seu capital político vivo mesmo fora do cargo, qualquer sinal de apoio público funciona como reforço de sua narrativa. Ao empunhar a bandeira da anistia, ele reforça sua ligação com a base mais fiel e tenta manter a mobilização ativa, ainda que fora do poder.

Além disso, minimizar o impacto de mudanças no projeto pode ser parte de uma estratégia para manter a coesão do movimento. Com um número cada vez maior de parlamentares e lideranças sendo cobrados sobre suas posições, Bolsonaro parece buscar uma solução que mantenha o discurso firme sem gerar atritos internos ou abrir margem para novas críticas.

O futuro da proposta de anistia ainda é incerto, já que depende do Congresso, do clima político e de pressões externas. Porém, Bolsonaro dá sinais de que continuará usando o tema como bandeira, e que transformará cada passo do processo — seja o número de assinaturas, uma comissão aprovada ou uma alteração no texto — em trunfo político.

Por enquanto, ele segue comemorando o apoio público e afastando qualquer discussão que possa relativizar sua narrativa principal: a de que os envolvidos merecem anistia total, independentemente do grau de participação.

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