Haddad afirma que os EUA possuem uma posição bastante favorável em relação ao Brasil
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se pronunciou sobre a situação comercial entre o Brasil e os Estados Unidos, à véspera do anúncio das tarifas recíprocas norte-americanas, previstas para esta quarta-feira (2). Em entrevista durante uma agenda em Paris, Haddad afirmou que os Estados Unidos ocupam uma posição “muito confortável” no que se refere às relações comerciais com o Brasil, destacando o superávit comercial histórico dos norte-americanos.
Superávit Comercial e Relações Bilaterais
Haddad destacou que, em 2024, o superávit comercial dos EUA com o Brasil foi superior a US$ 7 bilhões, apenas em bens. Ele ressaltou que essa vantagem comercial é evidente tanto em relação aos bens quanto aos serviços, o que coloca os Estados Unidos em uma posição vantajosa nas negociações com o Brasil.
“O Brasil tem uma relação positiva com os Estados Unidos, e é importante que a cooperação entre os dois países seja cada vez mais fortalecida. A posição dos EUA em relação ao Brasil é confortável, considerando que possuem superávit em diversos setores”, explicou o ministro.
O Impacto das Tarifas e a Incerteza Global
Ao ser questionado sobre o impacto das novas tarifas no cenário global, Haddad afirmou que é prematuro fazer estimativas, já que o teor do anúncio de Donald Trump ainda não havia sido revelado. Apesar disso, o ministro expressou surpresa caso o Brasil sofresse retaliações “injustificadas”, uma vez que o país tem sido um parceiro constante nas negociações com os EUA.
“No Brasil, nossa expectativa é que qualquer medida que seja tomada seja dentro do espírito de negociação. Não seria razoável sofrer retaliações após tantos esforços colaborativos”, afirmou o ministro.
Negociações e Estratégias Bilaterais
Em março, o Brasil e os Estados Unidos criaram um grupo de trabalho para discutir tarifas comerciais, com reuniões virtuais entre membros do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e o Representante de Comércio dos EUA (USTR). O governo brasileiro continuará a manter a estratégia de negociação, conforme afirmado por Haddad.
“É fundamental seguir com o processo de diálogo, e acreditamos que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia é um modelo de integração econômica que pode fortalecer o multilateralismo, tornando nossas economias mais competitivas”, afirmou o ministro.
Protecionismo e Barreiras Comerciais
O governo dos EUA, no entanto, tem apontado críticas ao Brasil em seu relatório anual sobre barreiras comerciais. Os Estados Unidos acusaram o Brasil de adotar práticas protecionistas, incluindo a taxação desigual sobre bebidas e restrições a produtos específicos, criando obstáculos ao comércio bilateral.
Na segunda-feira (31), o relatório apontou oito barreiras comerciais entre os dois países, um tema sensível que deve ser tratado nas futuras negociações. Haddad, por sua vez, manteve uma postura firme, defendendo o multilateralismo como chave para o desenvolvimento das relações comerciais globais.
Perspectivas para o Futuro
Com a iminente divulgação das novas tarifas pelos EUA, os próximos dias serão cruciais para definir o rumo das relações comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos. A busca por um acordo mais equilibrado e justo parece ser a prioridade do governo brasileiro, que continuará a enfatizar o fortalecimento da cooperação e a busca por soluções que favoreçam ambos os países.
A possibilidade de medidas recíprocas pode gerar incertezas econômicas, mas também abre um campo para negociações mais profundas que, no futuro, poderão reconfigurar a dinâmica comercial entre as duas nações.
Conclusão
Em um cenário de incerteza quanto aos impactos das tarifas, o governo brasileiro mantém a expectativa de que as negociações com os Estados Unidos continuem a ser baseadas no diálogo e na construção de soluções que promovam uma relação comercial mais justa. A criação de um grupo de trabalho e o fortalecimento do multilateralismo, com acordos como o do Mercosul com a União Europeia, são indicativos de que o Brasil busca se posicionar de forma estratégica para enfrentar desafios futuros e continuar seu desenvolvimento econômico.