A crise entre Bolsonaro e Zambelli: de aliada fiel a alvo de críticas
A relação entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e a deputada federal Carla Zambelli, outrora marcada por lealdade incondicional, sofreu um colapso evidente nos últimos meses. O rompimento entre os dois, que começou a se desenhar ainda durante as eleições de 2022, chegou ao ápice com declarações de Bolsonaro responsabilizando a deputada por sua derrota eleitoral. O caso levanta questões sobre alianças políticas e o impacto de atos isolados no cenário eleitoral.
O estopim: o episódio da arma na véspera do segundo turno
O incidente que abalou a relação ocorreu no dia anterior ao segundo turno das eleições de 2022. Carla Zambelli, uma das principais defensoras de Bolsonaro, foi filmada perseguindo um homem negro armado com uma pistola pelas ruas de São Paulo. A cena viralizou nas redes sociais e gerou enorme repercussão negativa, com críticas vindas de diferentes espectros políticos e sociais.
Bolsonaro, que à época enfrentava uma campanha acirrada contra Luiz Inácio Lula da Silva, considerou o episódio um golpe significativo para sua candidatura. Em conversas reservadas, ele teria dito que o ato de Zambelli afastou eleitores moderados e contribuiu para o resultado desfavorável nas urnas. “Ela tirou a eleição da gente”, teria desabafado o ex-presidente a interlocutores próximos.
Zambelli na defensiva
Zambelli, por sua vez, nega que tenha tido impacto decisivo na derrota de Bolsonaro. Em entrevistas recentes, afirmou que agiu em legítima defesa durante o episódio e que foi injustamente transformada em bode expiatório. “Eu lutei pela eleição do presidente até o último momento. Não aceito ser responsabilizada por algo que estava fora do meu controle”, declarou.
Apesar disso, o afastamento entre os dois ficou evidente em eventos públicos e na ausência de declarações de apoio mútuo após o término do governo. Zambelli, que antes era figura frequente ao lado de Bolsonaro, agora parece estar isolada politicamente, ao menos dentro do círculo mais próximo do ex-presidente.
O impacto político do rompimento
A ruptura entre Bolsonaro e Zambelli ilustra a fragilidade das alianças construídas durante o período de polarização política no Brasil. Enquanto Bolsonaro busca reorganizar sua base e se reposicionar para as próximas eleições, Zambelli enfrenta um cenário desafiador, com processos judiciais em andamento e uma queda de popularidade entre os apoiadores bolsonaristas.
Para analistas políticos, o episódio reflete a dificuldade de líderes políticos em gerenciar figuras públicas polêmicas dentro de seus próprios grupos. “A Zambelli sempre foi vista como uma aliada fiel, mas o incidente mostrou como atos individuais podem causar danos irreparáveis a campanhas coletivas”, avalia o cientista político Ricardo Lacerda.
O futuro de Zambelli e Bolsonaro
A deputada segue articulando sua defesa tanto no âmbito jurídico quanto no político. Contudo, sem o apoio explícito de Bolsonaro, seu futuro na política nacional é incerto. Já o ex-presidente parece focado em reestruturar sua base para enfrentar novos desafios, como os processos judiciais que ameaçam sua elegibilidade.
Enquanto isso, a relação desgastada entre os dois serve como um lembrete das complexidades e tensões que permeiam o cenário político brasileiro. Se antes Zambelli era uma das principais vozes do bolsonarismo, agora ela parece estar no centro de uma crise que exemplifica como alianças podem ruir diante de adversidades.
