Alckmin propõe que juros sejam definidos sem levar em conta inflação dos alimentos
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, fez uma defesa enfática nesta semana para que o Banco Central leve em consideração critérios diferenciados na definição da taxa básica de juros, a Selic. Segundo ele, a inflação dos alimentos, por ser sazonal e afetada por fatores climáticos, não deveria ter tanto peso nas decisões da política monetária.
A crítica ao impacto dos alimentos na inflação
Durante um evento em Brasília, Alckmin destacou que a inflação dos alimentos é fortemente influenciada por eventos externos, como secas, enchentes e oscilações no mercado internacional, fatores que estão fora do controle do Banco Central e do governo. “Não faz sentido penalizar a economia como um todo por variações nos preços dos alimentos, que são temporárias e se corrigem com o tempo. Precisamos de uma política monetária que olhe para o longo prazo, não apenas para os índices do momento”, afirmou.
Os preços dos alimentos têm sido uma das principais pressões inflacionárias no Brasil, especialmente para as famílias de baixa renda, que destinam uma parte significativa de seu orçamento para alimentação. Por outro lado, economistas alertam que ignorar esses índices na formulação da política monetária pode prejudicar o controle da inflação como um todo.
A Selic e seus impactos na economia
Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano, um patamar considerado elevado por diversos setores produtivos e por membros do governo. A alta dos juros tem sido apontada como um dos fatores que dificultam a retomada econômica, ao encarecer o crédito e reduzir os investimentos.
Alckmin é um dos membros do governo que frequentemente criticam a postura do Banco Central sob a gestão de Roberto Campos Neto. Ele defende uma redução mais acelerada da Selic, com o objetivo de estimular a atividade econômica, especialmente no setor industrial, que vem apresentando sinais de estagnação.
A visão do governo sobre a política monetária
A declaração de Alckmin reflete uma visão compartilhada por outros integrantes do governo, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Lula tem reiteradamente criticado a independência do Banco Central e cobrado uma atuação mais alinhada com as prioridades econômicas do governo.
Por outro lado, o Banco Central argumenta que a manutenção da Selic em níveis elevados é necessária para garantir o controle da inflação e evitar uma perda de credibilidade na política monetária. O órgão também destaca que a inflação no Brasil ainda está acima da meta estabelecida, embora venha desacelerando nos últimos meses.
Desafios para a economia brasileira
A proposta de Alckmin levanta um debate importante sobre o papel dos alimentos no cálculo da inflação e na formulação da política monetária. No entanto, especialistas alertam para os riscos de desconsiderar parcialmente esse componente. “Os preços dos alimentos têm um impacto direto no custo de vida das pessoas, especialmente para os mais pobres. Ignorar isso pode gerar distorções e comprometer o objetivo de estabilidade econômica”, afirmou um economista ouvido pela reportagem.
A economia brasileira enfrenta um momento delicado, com a necessidade de equilibrar crescimento econômico, controle da inflação e sustentabilidade fiscal. A discussão sobre a Selic e a composição dos índices de inflação é apenas uma das peças desse complexo quebra-cabeça.
O que esperar para os próximos meses
O Banco Central realizará novas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) nos próximos meses, e o mercado aguarda com expectativa possíveis cortes na Selic. Enquanto isso, o governo continua pressionando por medidas que reduzam o custo do crédito e incentivem o investimento.
A declaração de Alckmin indica que o tema seguirá no centro das discussões econômicas e políticas, refletindo as tensões entre o governo e o Banco Central sobre a melhor estratégia para promover o crescimento sem comprometer a estabilidade.