Beneficiários expressam preocupação e incertezas após déficit de R$ 14 bilhões na Previ
A situação financeira recente da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) gerou uma onda de preocupações entre os aposentados. Com a revelação de um rombo significativo nos fundos do plano, muitos beneficiários demonstraram apreensão quanto à segurança de seus direitos. Em entrevistas, vários aposentados expressaram medo de que, após a auditoria, os riscos para a integridade dos planos de pensão possam ser mais profundos do que o fundo admite.
A Defesa da Previ e Reações dos Aposentados
A Previ, em resposta às preocupações, afirmou que seus planos permanecem equilibrados, sem risco de equacionamento ou necessidade de contribuições extraordinárias. Contudo, o aposentado Edvaldo Sebastião de Souza, de 65 anos, destacou sua preocupação com possíveis “más decisões de investimentos” que podem ter levado a essa situação. Segundo ele, é importante que o fundo passe por auditorias externas para assegurar uma gestão responsável, apontando para o passado e os impactos da influência política na gestão do fundo.
Outros aposentados, como Francisco Reinoldo Schwarz, que contribui com a Previ desde 1974, também manifestaram desconfiança. Eles mencionaram que o risco de um “Plano de Equacionamento de Déficit” (PED) – prática já vista em outros fundos de pensão – é uma possibilidade a ser levada em consideração, especialmente em momentos de crise como o atual.
Comparação com Outras Instituições
A situação da Previ, apesar de ser delicada, não é isolada. Outros fundos de pensão, como o Postalis, Petros e Funcef, também enfrentaram dificuldades financeiras nos últimos anos, com a necessidade de intervenções externas para garantir a continuidade dos pagamentos. Esses casos alimentam as preocupações de que o mesmo possa ocorrer com a Previ, levando à redução dos benefícios e ao aumento das contribuições.
Paulo Édison Tocchetto, contribuinte do Postalis, por exemplo, relatou a frustração de ver sua aposentadoria reduzida em função de déficits que ele não causou. Essa situação, segundo ele, reflete um problema mais amplo de gestão de fundos de pensão, especialmente quando os cargos de liderança são ocupados por pessoas sem experiência técnica, mas por interesses partidários.
Efeito Cascata no Setor de Previdência Complementar
Especialistas no setor financeiro alertam para o impacto que o rombo da Previ pode causar em outros fundos de pensão. Rafael Zattar, professor de finanças, ressalta que, embora o desfalque da Previ não afete diretamente outros fundos, ele pode gerar um “efeito cascata”. A queda de confiança no sistema de previdência complementar pode afetar a segurança de aposentados e futuros beneficiários, com consequências para a estabilidade de todo o setor.
Celso Pinto Mangueira, aposentado dos Correios, compartilhou preocupações semelhantes, citando a nomeação de líderes sem vínculo com as entidades, o que, para ele, contribui para a má gestão dos fundos. A falta de princípios de moralidade e a politização das gestões são vistas como fatores que aumentam o risco de novos déficits e crises.
Respostas de Outros Fundos e Medidas de Governança
Outros fundos, como o Postalis, Petros e Funcef, enfrentaram desafios semelhantes, e seus gestores estão tentando implementar medidas para melhorar a governança e garantir a sustentabilidade dos planos. O Postalis, por exemplo, afirmou em nota que está empenhado em resolver seus problemas financeiros, seguindo um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Previc. Contudo, muitos aposentados ainda questionam se essas ações são suficientes para resolver os problemas de fundo e evitar que a história se repita.
Auditoria Externa: Uma Esperança para os Aposentados
Para muitos aposentados da Previ, a realização de uma auditoria séria e independente pelo Tribunal de Contas da União (TCU) é vista como uma medida essencial para melhorar a gestão do fundo. Juarez Fernando Miotto, aposentado desde 2016, destacou a importância da auditoria externa como uma ferramenta para reforçar as boas práticas e implementar melhorias. Para ele, a auditoria é uma chance de salvar a Previ de um futuro incerto e restaurar a confiança dos beneficiários na gestão do fundo.
Conclusão
O cenário atual da Previ reflete não apenas os desafios financeiros do fundo, mas também a fragilidade da gestão em períodos de crise. A falta de confiança dos aposentados, aliada à necessidade urgente de uma auditoria externa, indica que o fundo de pensão precisa passar por reformas profundas em sua governança. A situação da Previ não é um caso isolado, e a resolução do problema pode exigir uma análise mais ampla do setor de previdência complementar como um todo. Para os aposentados, a transparência e a responsabilização dos gestores são passos fundamentais para garantir a continuidade dos seus direitos e benefícios a longo prazo.