Títulos europeus caem devido às tarifas dos EUA e discussões sobre gastos
Na terça-feira, 4 de março, os rendimentos dos títulos da zona do euro apresentaram uma queda, enquanto investidores focavam nas recentes tarifas impostas pelos Estados Unidos ao México, Canadá e China, além de estarem atentos às notícias sobre a suspensão da ajuda militar dos EUA à Ucrânia.
Rendimentos de Títulos da Zona do Euro em Queda
O rendimento do título alemão de 10 anos, referência da zona do euro, caiu 2 pontos-base (pbs), para 2,469% por volta das 0h30 (horário de Brasília). No início do dia, o título chegou a registrar uma queda de até 6 pbs. O movimento de baixa foi mais acentuado nos títulos de prazos mais curtos, como o título de 2 anos da Alemanha, que viu uma queda de 5 pbs, alcançando 2,025%. Curiosamente, os rendimentos dos títulos de 30 anos da Alemanha apresentaram uma leve alta de 2 pbs, subindo para 2,819%.
Enquanto isso, os títulos de curto prazo de outros países da zona do euro também seguiram uma trajetória de queda. O rendimento do título de 10 anos da Itália recuou 2 pbs, para 3,528%, e o rendimento do título de 2 anos da Itália caiu 5 pbs, para 2,321%. A situação contrastou com os dias anteriores, quando os rendimentos dos títulos de prazos mais longos subiram, impulsionados pelas expectativas de aumento nos gastos com defesa da União Europeia.
A Incerteza Geopolítica e o Impacto nas Expectativas Econômicas
O movimento nos mercados de títulos ocorre em um contexto de incertezas geopolíticas, especialmente após a suspensão da ajuda militar dos EUA à Ucrânia, uma decisão que impactou a confiança dos investidores. Kenneth Broux, chefe de pesquisa corporativa do Société Générale, destacou que o fluxo de notícias da situação na Ucrânia continua sendo um fator crucial, já que ainda não houve confirmação de tarifas adicionais sobre a União Europeia, como ocorreu com o Canadá, México e China.
Além disso, a pressão sobre as nações europeias para aumentar seus gastos com defesa continua a crescer, refletindo nas expectativas de que os rendimentos de títulos possam subir no futuro, principalmente caso a Europa precise financiar sua própria segurança e a da Ucrânia. Broux também ressaltou a incerteza quanto ao apoio contínuo dos EUA aos esforços europeus na manutenção da paz, o que gera mais incerteza no mercado.
A Repercussão das Tarifas no Mercado de Títulos e a Possibilidade de Contágio
A queda nos rendimentos dos títulos da zona do euro ocorre em paralelo com o movimento observado nos títulos do Tesouro dos EUA, que também registraram recuo nesta terça-feira. A pesquisa de manufatura do Institute for Supply Management (ISM) indicou um aumento nas expectativas de inflação em fevereiro, com fornecedores mencionando as tarifas como um fator impactante. Estratégistas de taxas do Rabobank notaram que os Bunds (títulos alemães) estão se recuperando, mas com uma tendência de achatamento nas curvas de rendimento, o que indica um maior impacto nas maturidades mais curtas.
O impacto das tarifas na economia dos EUA tem causado preocupações adicionais, com Broux apontando que, caso a economia dos EUA enfrente dificuldades no primeiro trimestre, isso pode gerar um efeito de contágio na Europa, ampliando os desafios para os mercados financeiros globais.
Expectativas para a Reunião do Banco Central Europeu (BCE)
Em meio a esse cenário, as atenções também se voltam para a reunião do Banco Central Europeu (BCE), marcada para quinta-feira, 7 de março. Espera-se que o BCE anuncie um corte de 25 pontos-base na taxa de juros, uma medida que se alinha às expectativas do mercado, considerando os últimos dados da zona do euro, que mostraram uma inflação menor do que o esperado. O corte nas taxas de juros seria um movimento para estimular a economia e consolidar as apostas de flexibilização da política monetária da zona do euro.
Conclusão
A queda nos rendimentos dos títulos da zona do euro reflete uma combinação de incertezas geopolíticas e as preocupações com o impacto das tarifas dos EUA nas economias globais. A situação da Ucrânia e a pressão para que os países europeus aumentem seus gastos com defesa são elementos cruciais que continuam a afetar os mercados. A reação dos investidores será moldada não apenas pelos desdobramentos das questões políticas e econômicas globais, mas também pelas decisões do BCE, que podem influenciar a trajetória dos rendimentos nos próximos meses.