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Milei afirma que pode manter a aliança com o Mercosul, desde que os países tenham a liberdade de “abrir seu comércio de forma unilateral”

Presidente argentino busca flexibilizar as regras do bloco sul-americano para viabilizar uma parceria comercial com os Estados Unidos.

O presidente da Argentina, Javier Milei, reafirmou seu compromisso com a busca por um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos, mas destacou que isso não necessariamente significaria o fim da aliança com o Mercosul, bloco econômico que reúne países sul-americanos como Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Em entrevista nesta quinta-feira (23), Milei declarou que é possível avançar em negociações comerciais com Washington sem prejudicar a relação com os membros do Mercosul, desde que os países-membros do bloco possam ter a liberdade de abrir seu comércio de forma unilateral.

Milei e o Mercosul: Flexibilidade nas Negociações

O presidente argentino se mostrou otimista quanto à possibilidade de conciliar os interesses comerciais do país com o Mercosul e os Estados Unidos. Em declarações durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, Milei afirmou que está em busca de alternativas para avançar no comércio livre com os EUA sem violar os princípios do bloco. “Vamos tentar avançar e fazer o que é melhor para os argentinos”, disse Milei. Ele propôs que os países-membros do Mercosul possam “abrir seu comércio unilateralmente”, uma mudança que permitiria maior liberdade para negociações bilaterais com outras nações, sem a necessidade de um consenso entre todos os membros do bloco.

Essa abordagem seria uma tentativa de flexibilizar as regras rígidas do Mercosul, que tradicionalmente exige que negociações externas sejam feitas de maneira conjunta, com a aprovação de todos os países do bloco. Para Milei, a chave está em permitir que os países individualmente possam tomar decisões comerciais, especialmente em relação a uma possível aliança com os Estados Unidos.

A Busca por um Acordo com os EUA

A busca por um acordo de livre-comércio com os EUA não é novidade na agenda de Milei. Já em dezembro de 2023, o presidente argentino havia anunciado sua intenção de negociar um tratado com Washington, após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. O movimento de Milei é visto como uma tentativa de estreitar laços econômicos com uma das maiores economias do mundo, ao mesmo tempo em que tenta garantir mais autonomia para a Argentina no cenário internacional.

Entretanto, a abordagem de Milei gerou preocupação em algumas esferas políticas da Argentina e do Mercosul, uma vez que o bloco impede negociações bilaterais sem a concordância de todos os seus membros. Apesar disso, o presidente argentino garantiu que está trabalhando em conjunto com os outros países do Mercosul para que a busca por um acordo de livre-comércio não seja um impeditivo para o avanço do comércio dentro do bloco. Ele ressaltou que seu foco principal é encontrar soluções que beneficiem a população argentina, sem prejudicar suas alianças comerciais.

Riscos e Oportunidades para a Argentina

A proposta de Milei de negociar com os Estados Unidos enquanto mantém a flexibilidade no Mercosul reflete a tentativa da Argentina de se posicionar de maneira mais autônoma no cenário global, buscando maior liberdade para tomar decisões comerciais. No entanto, o sucesso dessa estratégia dependerá da capacidade do governo argentino de negociar com seus parceiros do Mercosul, já que qualquer movimento unilateral pode gerar tensões dentro do bloco.

Além disso, enquanto um acordo de livre-comércio com os EUA poderia trazer grandes benefícios econômicos para a Argentina, como o aumento das exportações e o fortalecimento da indústria local, a negociação de um tratado desse porte também envolve riscos, como a pressão sobre a economia argentina e a necessidade de alinhar políticas comerciais de maneira que não prejudiquem os interesses de outros países sul-americanos.

Conclusão: A Tensão Entre Independência e Cooperação Regional

A proposta de Javier Milei de buscar um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos sem romper com o Mercosul reflete um dilema central da política comercial argentina: como equilibrar a autonomia nas negociações externas com a necessidade de manter boas relações com seus parceiros regionais. Embora a ideia de flexibilizar as regras do Mercosul para permitir negociações bilaterais seja um passo ousado, ela também coloca em questão os princípios de integração que sustentam o bloco sul-americano.

O futuro da relação entre a Argentina, o Mercosul e os Estados Unidos dependerá da habilidade de Milei em navegar por essas águas turbulentas, conciliando as necessidades de sua população com os desafios de um sistema comercial regional tradicionalmente mais rígido. O sucesso dessa estratégia pode abrir novas oportunidades para a Argentina, mas também exigirá um equilíbrio cuidadoso entre independência econômica e cooperação regional.

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