Extrema-direita amplia recrutamento para planejar novos ataques, alerta antropóloga
A antropóloga e pesquisadora Carla Almeida, especialista em movimentos políticos radicais, fez um alerta preocupante sobre a atuação da extrema-direita no Brasil. Em entrevista a um seminário sobre democracia e segurança, realizado nesta semana em Brasília, ela afirmou que grupos extremistas estão intensificando esforços de recrutamento para ampliar sua base e planejar possíveis novos ataques contra instituições democráticas.
Redes sociais como ferramenta de mobilização
Segundo Almeida, as plataformas digitais têm sido o principal meio de organização e captação de apoiadores. Grupos extremistas usam redes sociais e aplicativos de mensagens para disseminar discursos de ódio, teorias conspiratórias e narrativas antidemocráticas, muitas vezes camuflados sob a bandeira da “defesa da liberdade”.
“Esses movimentos estão explorando o descontentamento com o sistema político para atrair indivíduos vulneráveis a discursos radicais. Há um padrão claro de recrutamento focado em jovens e pessoas insatisfeitas com a economia e a política”, explicou a antropóloga.
Ela também destacou o uso crescente de estratégias para escapar da fiscalização:
“As mensagens são codificadas, e os grupos frequentemente migram para plataformas menos reguladas, dificultando o monitoramento por autoridades.”
Recrutamento em setores estratégicos
Um dos pontos mais preocupantes levantados pela pesquisadora é o foco desses movimentos em recrutar membros dentro de setores estratégicos, como forças armadas, policiais e profissionais de segurança privada.
“Essa infiltração em instituições essenciais pode ser um divisor de águas para a capacidade de ação desses grupos. A história recente mostra que a presença de apoiadores nesses setores facilita a execução de ações coordenadas e aumenta o risco de violência.”
Os alvos de futuros ataques
Embora Almeida não tenha citado planos específicos, ela apontou que o foco desses movimentos inclui símbolos do poder democrático, como o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e sedes de governos estaduais. O ataque às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 ainda é lembrado como um marco na escalada das ações extremistas.
“Esses grupos estão cada vez mais dispostos a atacar fisicamente as instituições. A radicalização não é apenas retórica, mas também prática”, afirmou.
Autoridades e medidas preventivas
O alerta gerou reações entre representantes do governo e especialistas em segurança pública presentes no evento. A Secretaria Nacional de Justiça, representada pelo secretário Marcos Teixeira, enfatizou a importância de reforçar a vigilância sobre os movimentos extremistas:
“Estamos aprimorando a cooperação entre as forças de segurança e plataformas digitais para prevenir ataques e desarticular grupos antes que ações violentas sejam concretizadas.”
Apoio internacional e influência global
Carla Almeida também destacou a conexão entre grupos extremistas brasileiros e movimentos de extrema-direita no exterior. Inspirados por lideranças radicais em países como Estados Unidos e Europa, essas organizações trocam estratégias e replicam táticas já testadas em outros contextos.
O desafio da democracia
A antropóloga concluiu sua fala reforçando a necessidade de a sociedade se manter vigilante:
“O fortalecimento da democracia depende de enfrentarmos o extremismo com informação, educação e ações contundentes para impedir que esses grupos se consolidem.”
O alerta acendeu discussões sobre a responsabilidade de governos, plataformas digitais e cidadãos em combater a disseminação de ideologias extremistas e proteger as bases democráticas do país.