Remarcações antes das ‘promoções’ da Black Friday pressionam inflação e preocupam consumidores
Com a aproximação da Black Friday, uma prática que tem gerado preocupação e desconforto entre consumidores e economistas é a remarcação de preços de diversos produtos antes das “promoções”. Essa tática, frequentemente denunciada em edições anteriores do evento, envolve o aumento dos preços dos itens semanas antes da Black Friday, apenas para que, no dia das ofertas, os descontos apresentados aparentem ser mais vantajosos do que realmente são. Além de enganar os consumidores, esse tipo de manobra contribui para uma pressão inflacionária.
O impacto na inflação
Embora a Black Friday tenha se consolidado como uma das datas mais aguardadas pelo varejo, a prática de inflar preços para simular grandes descontos tem efeitos além da insatisfação do consumidor. Economistas apontam que, em um cenário de alta remarcação de preços, como o observado nas semanas que antecedem a Black Friday, há um impacto direto nos índices de inflação.
O aumento artificial dos preços, especialmente em setores como eletrônicos, eletrodomésticos e produtos de tecnologia, afeta os índices de preços ao consumidor (IPCA), que são utilizados para medir a inflação no país. Mesmo que os descontos ocorram no dia da Black Friday, a elevação temporária de preços antes do evento já exerce pressão sobre o cálculo da inflação no curto prazo.
Como a prática afeta o consumidor?
Para o consumidor, a sensação de desconfiança e frustração em relação à Black Friday vem crescendo. Com as remarcações, muitos sentem que estão sendo enganados, acreditando que estão adquirindo produtos com grandes descontos, quando, na realidade, o valor final é muitas vezes próximo ou até superior ao que era praticado antes da “promoção”. Isso enfraquece a credibilidade das lojas e da própria data comercial.
Sites de comparação de preços e aplicativos de monitoramento têm ganhado destaque nesse contexto, ajudando os consumidores a rastrear a variação de preços ao longo do tempo e identificar possíveis fraudes. Além disso, órgãos de defesa do consumidor, como o Procon, têm reforçado campanhas de conscientização para alertar o público sobre os riscos de cair em falsas promoções.
Black Friday e o consumo consciente
Para muitos especialistas, a Black Friday, se bem regulada, pode ser uma ótima oportunidade para o consumidor adquirir produtos a preços mais acessíveis. No entanto, com as recorrentes remarcações e práticas abusivas, há uma crescente demanda por maior fiscalização e transparência por parte das lojas e plataformas de vendas online.
Algumas iniciativas, como a obrigatoriedade de exibir o histórico de preços dos últimos meses, têm sido discutidas, a fim de garantir que os descontos sejam reais e reflitam uma vantagem significativa para o consumidor. Isso poderia trazer mais clareza e confiança para o evento, reduzindo o impacto negativo causado pelas remarcações.
A necessidade de regulamentação
O mercado brasileiro tem mostrado, ano após ano, que a regulamentação mais rigorosa da Black Friday e de práticas de promoção é necessária. A pressão inflacionária gerada pelas remarcações é apenas um dos efeitos colaterais de um evento que deveria, em princípio, beneficiar tanto os consumidores quanto o comércio.
Se por um lado as empresas se preparam para vender mais e aumentar seu faturamento, por outro, os consumidores estão cada vez mais atentos e exigentes, não aceitando práticas enganosas. Uma possível solução seria a implementação de regras mais claras sobre a transparência de preços antes das promoções e um monitoramento mais ativo por parte de agências reguladoras e entidades de defesa do consumidor.